Não sou mulher que aceita migalhas. Aqui tem amor próprio! há tempo para viver amores, não dores!


Processo de Deserção


Deserção: abandono, abjuração, despovoação, retratação, apostasia, desistência. Abrir mão de um sentimento em relação a alguém. Pular fora enquanto á tempo. Amor próprio. Honesto com você mesmo. Saúde psicológica.


Solicito a desistência não do amor, de você. De você. Do passado que virou presente doído. Fui mais inteligente aos quinze do que aos trinta. Carinha. Palhaço. Seu moço. Seu bobo. Idiota. Ridículo. Sim, apaixonei.  Guardei pra mim. Sepultei.


Eu abandono a angústia. Angústia de esperar uma carinha com corações ao invés de olhos esbugalhados, ou cara de horrorizado na tela do celular.


Da ligação que você não fez aos sábados. Da atitude que você nunca terá. Aguardo o convite. Casamento em peça e conto. Previsão. Constatação.


Faço abjuração das promessas não realizadas. Esqueceu do contrato verbalizado e digitalizado. Do jantar trocado pelo hoje não dá. Sou babá. Depressão. Síndrome do Pânico. Sem graça. Cartão postal. Tédio. Medo de ser. Medo de ser só. Aparências. Falta terapia. Hombridade. Coragem.  Sal. Tesão e paixão. É dó. Não há sentimento pior.

 

Só se vive uma vez. Ou não. Mas essa é única. Aprendi na dor. Aprendi. Não abro mão. Não estou na caixinha. Sou caixinha. “Believe”. A lápis. Giz e tempestade. Rascunhos e cartas. Cartas a público. Indiretas, diretas para você.


Coração já está sendo despovoado. Já quase não há habitantes. São poucos, mas raros. Alguns bem antigos, de longa data. Há recém chegados, mas já ocuparam grande parte do território. Outros montaram barracas, improvisaram. Uns só de passagem, mas deixam marcas e aprendizado. Há túmulos. Alguns mortos. Permanece só quem se sente e faz bem.


Retratação: Não importa o caminho, serei sempre amor. Não sou barco a deriva. Não sigo regras de desapego. Tempo a gente faz. Querer é poder. Falta querer. Vontade e verdade. Interpretação. Sobra orgulho. Deixe de frouxidão. Peça perdão. Viva na solidão. Recolha-se na ingratidão.


Enfim, peço desistência dos dias não vividos. Dos dias de espera. Do não posso mais. Ocupado demais. Muita coisa pra fazer. Não me dá motivos. Das inverdades. Da falta de coragem. Do comodismo. Da escuridão transformada em perfeição. Da desconfiança. Da premeditação. Do egoísmo. Do meu sentimento por você. Do contrato e da vingança. Do insosso. Da nossa mentira vivida.

 

Abrir mão de sentimento é dor que um dia acaba. Não sou Julieta. Sim estou pulando fora. Não sou mulher que aceita migalhas. Aqui tem amor próprio. E há tempo para viver amores. Não de dores. Prefiro ser honesta. Dias coloridos. Viagens. Dançar na chuva. Amigos e risadas. Por aqui sobra atitude. Coração e paixão.  Intensidade e tesão. Na vida.


Quanto à loucura e ansiedade?  Ora! Existe terapia.


*Aline Borges

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