Substituição
Ela era uma atriz muito requisitada. Os seus
espetáculos sempre lotavam o teatro, durante meses.
Os críticos eram pródigos em elogios. Chamavam-na
Deusa do Teatro, Estrela das estrelas, etc.
Por tudo isso, talvez, a atriz se foi enchendo de
orgulho e vaidade. Passou a imaginar que não haveria ninguém tão extraordinária
quanto ela, na arte da representação.
Ninguém, pensava, a poderia substituir no papel de
Primeira Dama do Teatro. Ninguém lhe poderia igualar a beleza, nem o
porte.
Tornou-se rude no trato com os seus empregados.
Camareiros, porteiros, motoristas, que a serviam com devotamento, passaram a
sofrer as suas grosserias.
Seu próprio empresário tinha que suportar seus
ataques de raiva, pelas menores questões. Suportava, é verdade, porque a atriz
representava lucro certo. No fundo, não gostava dela porque ela o menosprezava,
como aos demais.
Ora, aconteceu que, certo dia, a atriz, viajando por
várias cidades americanas, ficou retida no caminho por causa de uma tempestade
de neve.
Conseguindo se comunicar com o empresário, que já a
aguardava na localidade do próximo espetáculo, falou-lhe do imprevisto.
Estava impossibilitada de chegar a tempo para a
representação teatral e ordenou que ele cancelasse o espetáculo daquela
noite.
O empresário ficou muito nervoso. Mais ainda o
gerente do teatro. Como enfrentar o numeroso público pagante, com ingresso
adquirido há meses, simplesmente cancelando o espetáculo porque a atriz não
chegaria a tempo?
O povo poderia ficar enraivecido e quebrar o recinto.
Afinal, já estavam vendidos todos os ingressos de todos os espetáculos
seguintes.
Foi aí que a camareira da atriz se apresentou. Disse
que adorava a sua senhora, que viera servir como camareira por admirá-la. No
entanto, ela era uma atriz.
Disse que conhecia, por assistir todas as noites, os
detalhes do espetáculo e sabia de cor as falas. Ela poderia substituir a atriz,
naquela noite.
O empresário e o gerente relutaram um pouco, mas
acabaram cedendo. Não havia outra opção, senão arriscar.
A nova atriz interpretou de forma soberba. O público
a aplaudiu de pé, demoradamente. Ela precisou voltar ao palco, por dez vezes. A
crítica dos jornais do dia seguinte falava a respeito da nova musa do
teatro.
Rapidamente, a atriz anterior foi
esquecida. Mais rapidamente, ainda, e com alívio dos empregados, empresário e
gerente do teatro, que não mais precisariam suportar os maus tratos.
No trato com as criaturas, lembremos de cultivar a
gentileza e a cortesia. Ser educado com todos é prova de civilidade.
Lembremos ainda que ninguém é totalmente
insubstituível, nem viverá eternamente no corpo físico. Todos possuímos talentos
e ninguém é único em sua área de atuação.
Nunca desprezemos a importância dos outros e os
valorizemos sempre, a fim de que os outros possam também nos
valorizar.