Nem tudo que parece carinho é cuidado. Nem toda doçura é sincera.
A gente cresce aprendendo a ouvir o que é dito, mas nem sempre aprende a sentir o que está por trás.
Porque tem palavras que chegam como abraço, mas apertam demais.
Tem elogios que soam como afeto, mas são armadilhas disfarçadas.
Tem gente que oferece atenção, mas cobra obediência.
Que sorri, mas quer controle.
Que se aproxima, mas não acolhe — manipula.
E quando você começa a perceber isso, tudo muda.
Você começa a enxergar os detalhes.
O tom. A frequência. O que não é dito.
Começa a entender que o problema nem sempre está nas palavras — está na intenção.
Naquilo que se esconde por trás do gesto bonito.
Na expectativa que vem embutida no “eu só quero te ajudar”.
Na cobrança disfarçada de preocupação.
É difícil aceitar isso.
Porque a gente quer acreditar no melhor.
Quer confiar.
Quer sentir que é amado, cuidado, respeitado.
Mas às vezes, o que parece amor é só uma forma sofisticada de controle.
E o que parece cuidado é só uma maneira de manter você pequeno, dependente, calado.
Por isso, aprender a nomear é parte da cura.
Dar nome ao que te fere.
Reconhecer o que te prende.
Entender que nem todo afeto é saudável.
Que nem toda presença é bem-vinda.
Que nem todo “eu me importo” é verdadeiro.
Quando você começa a nomear, você começa a se libertar.
Porque quem nomeia, reconhece.
Quem reconhece, se protege.
E quem se protege, começa a se curar.
Você não precisa aceitar tudo só porque vem embalado em gentileza.
Você não precisa se calar só porque o outro parece bem-intencionado.
Você não precisa se manter em lugares que te confundem, te diminuem, te manipulam.
Você merece relações que te respeitam.
Palavras que te elevam.
Presenças que te acolhem sem te moldar.
Amor que não te cobra silêncio em troca de afeto.
E tudo isso começa quando você para de duvidar do que sente.
Quando você escuta sua intuição.
Quando você entende que o seu desconforto é sinal — não exagero.
Porque a cura não é só sobre esquecer o que doeu.
É sobre aprender a reconhecer o que não serve mais.
É sobre se escolher.
É sobre se libertar.
É sobre se amar — de verdade.
*César

