A Conta Chega — E Não Há Escapatória
Há uma verdade que atravessa todos os tempos, todas as culturas, todas as crenças:
ninguém escapa do acerto final.
Não importa o nome que se dê — julgamento, karma, destino, consciência, eternidade —
a vida cobra.
E cobra com precisão cirúrgica.
Vivemos em uma sociedade obcecada por status.
Nos ensinam a subir escadas, conquistar cargos, acumular títulos, vestir poder.
Nos moldam para sermos reconhecidos, temidos, admirados.
Mas esquecem de nos ensinar a sermos bons.
Justos.
Íntegros.
Humanos.
Você pode vestir a farda mais condecorada.
Pode assinar documentos com selos dourados.
Pode ser chamado de excelência, de senhor, de doutor.
Pode ter portas abertas, privilégios concedidos, reverências feitas.
Mas nada disso pesa na balança que realmente importa.
Porque quando o tempo se esgota — e ele sempre se esgota —
não é o que você acumulou que será lembrado.
É o que você causou.
É o que você deixou.
É o que você foi.
A conta que a vida apresenta não vem com números.
Ela vem com memórias.
Com rostos.
Com vozes.
Com perguntas que não têm como evitar:
— Quem você feriu por ego?
— Quem você ignorou por arrogância?
— Quem você humilhou por prazer?
— Quem você deixou de ajudar por conveniência?
E mais do que isso:
— Quem você salvou sem que ninguém visse?
— Quem você escutou quando o mundo silenciava?
— Quem você abraçou quando todos viraram as costas?
Porque no tribunal da existência, não há advogado que te defenda.
Não há cargo que te proteja.
Não há patente que te exima.
Só há você.
Nu.
Cru.
Diante daquilo que construiu — ou destruiu.
E esse tribunal não julga aparências.
Julga intenções.
Não julga discursos.
Julga atitudes.
Não julga o que você dizia ser.
Julga o que você foi quando ninguém estava olhando.
A conta chega.
E ela não chega com pompa.
Ela chega no silêncio de uma madrugada.
No olhar de alguém que você magoou.
Na ausência de quem você perdeu.
Na dor que você causou e tentou esquecer.
E quando ela chegar — porque ela sempre chega —
que você possa encará-la com dignidade.
Que você possa dizer, mesmo com falhas, mesmo com quedas:
“Eu tentei. Eu fui inteiro. Eu fui verdadeiro. Eu fui justo.”
Porque no fim, o que te salva não é o que você teve.
É o que você deixou nos outros.
É o que você foi quando ninguém te obrigava a ser nada.
*César

