QUE TIPO DE BRIGADEIRO É VOCÊ?

Pense num brigadeiro. Redondinho. Gostoso. Bem embalado. Prometendo sensações deliciosas. O brigadeiro que faz a gente rondar discretamente a mesa do bolo por quatro horas a fio e muitas vezes, para os mais abusados e cara de pau, roubar unzinho na moita.

Agora imagine um final de festa. Restos de bolo e salgadinhos mordidos pelo chão. O brigadeiro, antes um sonho de desejos, agora retorcido e disforme com forminha e tudo. Você comia? Encarava?

Não comia, claro que não. Não é doido nem nada. Esse brigadeiro acabado a mais ninguém interessa. Pode varrer fora. É lixo. Assim você descarta o pobre do brigadeiro, sem dó e sem piedade.

Você é um brigadeiro. Seja você do gênero que for, somos todos brigadeiros. Mas qual tipo deles é você? Sabe me responder?

Tipos de brigadeiro:

1- Brigadeiro de panela

Simples e rustico. Um basicão eficiente. Afinal para que ficar enrolando? Gastando tempo à toa, se vai mastigar tudo depois? Bom é meter a colher na panela. Se lambuzar com vontade.

Brigadeiro de panela é bom quente, na hora. Ótimo gelado tirado da geladeira. Bom para cair de boca sem culpa e sem rapapés a qualquer hora do dia ou da noite.

Pessoas desse tipo são descomplicadas. Sem muito enfeite externo. Se é seu caso, você não liga muito para a forma, nem para detalhes. Você conhece seu taco. Confia no seu conteúdo. Seu sabor cativa.

Seu jeito de descer quentinho aquece a alma. Mesmo sem frufrus e forminhas, você conhece seu valor. Você sabe cativar. E cativa. Você é uma pessoa ninho. Acolhe quem merece e precisa. Brigadeiros de panela são praticamente um abraço.

2- Brigadeiro de mesa de bolo

Você capricha na produção. Seduz pela aparência. Além de ter bom sabor. Você também sabe seu valor e exige ser bem tratada. Senão, não rola. Quem quiser chegar perto vai precisar investir. Não serve qualquer cantada, não.

3- Brigadeiro de uva

Brigadeiro de uva somos todos nós. Uns amam (é o meu preferido). Uns odeiam. A mordida que acha a uva pode ser o início do céu. Um verdadeiro paraíso. Ou a amarga decepção de quem achava que era de coco.

A gente é assim mesmo, um combo de qualidades e defeitos, de uva onde o outro esperava coco. Detestados por outros, sempre. Mas com chances de sermos amados por outros. É a sorte.

Ninguém nunca vai agradar todo mundo. Agradar tudo mundo serve para o que mesmo? A gente gosta de todo mundo? Bom é poder agradar a quem, realmente, se agrada com a gente.

4- Brigadeiro de foto de rede social

A foto promete. Linda. Deliciosa. A descrição te faz salivar. Você quer. A vontade te come por dentro. É ele. Ele é o seu brigadeiro ideal. O que você esperou a vida toda. O príncipe, ou princesa dos brigadeiros.

Você dá mach. Vai atrás. Prova. E cospe fora. Era tudo armação. Ele parecia promissor, mas é fake. Mais fake que Whatsapp de tia sobre candidato em eleição. Fuja.

5- Brigadeiro de leite de soja

Também pode vir enfeitado. Seduzir pela aparência. Mas na hora do vamos ver, trava. Amarga. Dá ruim. Você não costuma agradar? Mais amargo do que deveria? Gosto meio duvidoso? Jeitão de ser bom sem ser? Está na hora de repensar seus valores. Quem sabe procurar ajuda.

O brigadeiro de soja é aquele que chega encantando. Só à primeira vista. Com a convivência, uma decepção atrás da outra. De perto se vê que não é tudo aquilo. Seu parceiro pode insistir, afinal tem gosto para tudo nesse mundo.

É uma relação bem sofrida. Não sei se vale a pena.

6- Brigadeiro pisado de fim de festa

Desfigurado agora. Já foi inteirinho um dia. Pelo menos parecia. De conteúdo nem é ruim. De beleza também não. Se perdeu na longa jornada. Acabou atropelado, num fim de festa, por uma Cinderela mais afoita.

Esse brigadeiro é a pessoa que se sente o último biscoito do pacote: quebrado, esfarelado por dentro. E esquecido porque ninguém mais quer. Ele acha que não merece ser bem tratado. Que deve merecer mesmo tudo o que recebe de agressões.

Foi jogado no chão. Talvez nem de propósito. Mas não sabe levantar e dar a volta por cima. Fica ali sendo pisado, repisado. Virando maçaroca. Achando que é normal.

É diminuído. Destratado. Ameaçado. Xingado. Se acostumou a ser humilhado. Nem se importa muito de ficar nessa posição. Já nem liga. Murchou. Esqueceu que pode ter brilho.

Conheço brigadeiros lindos, de mesa de bolo, que se permitem ser tratados de qualquer forma. Que enlutaram após um final de relacionamento, uma demissão, um desgosto. Que vestiram a alma de luto sem conseguir se livrar do finado ex, ou da dor da decepção.

Não é a beleza de fora que determina o valor ou a auto estima de alguém. Importa é se querer bem. Perceber suas qualidades. Comemorar suas vitórias. Levantar das derrotas. Ir em frente. Dar valor ao sabor que tem. À vida. À quem presta e está por perto.

Não importa sua cor, sua posição social, seu gênero, se você é brigadeiro seja o melhor possível. E escolha bem direitinho quem pode ou não te comer. 


*Por: Mônica Raouf El Bayeh


Mônica é carioca, professora e psicóloga clínica. Especialista em atendimento a crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias. Perita judicial.

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