TRISTEZA NÃO É DEPRESSÃO. ALEGRIA NÃO É FELICIDADE

Ela é sorridente. Animada. Se tiver reunião, é a rainha da festa. Faz a diferença. Diverte todo mundo. Conta casos, piadas. Nada é igual quando ela falta.

Ela falta porque tem dias que só Deus sabe. Tem dias que ela não passa da porta. Às vezes já pronta. Não consegue. Falta ânimo. Coragem. Ar. Da porta ela volta. Se desarruma e vai dormir.

Quem passa por ela não imagina. Quem vê essa mulher em ação não calcula a luta que ela trava, inclusive para ficar viva. Ela tem depressão. Como assim? Tão animada? Sim, animada por fora, mas é por dentro que a guerra acontece e a gente não vê.

Depressão? Não pode ser! Pode. Muito pouca gente entende, de verdade, o que é a depressão. Depressão tem tristeza, mas não é tristeza.

Uma pessoa pode estar triste por muitos motivos. Por perdas, por mudanças. Por decepções, abandonos. Nesses momentos, ficar triste é saudável. É preciso um tempo de digestão para dar conta do que passou, do que se está sofrendo.

Essa tristeza é o que a gente chama de luto. A sombra do luto cai em cima da gente. A vida escurece. Perde a graça, a cor. Vai demorar um tempo para voltar ao normal, mas volta. Quanto tempo? Cada um é que sabe de si. Não há como calcular, nem como apressar.

Importante é respeitar. Ficar perto. Dar apoio, sem pressionar. Digo isso porque a gente pressiona. Incomoda ver o outro sofrendo, sem conseguir reagir.

Muitas vezes a vontade de dar um sacode, falar verdades é mais forte e lá vai a gente maltratar o pobre ser sofrente. É um massacre em nome do bem, da amizade, da família. De qualquer forma, é um massacre.

Tudo que a pessoa triste não precisa é de cobranças. Tenham calma. Empatia. Vai passar. Se não passar? Aí pode ser que tenha se instalado um quadro de depressão.

A pessoa depressiva está triste, sim. Só que cada uma tem sua forma de sofrer e demonstrar ou não. Nem sempre vai te mostrar a tristeza dela. Há as que se cobram estar fortes, inteiras. Elas passam o pão que o diabo amassou, mas estão lá de pé e sorridentes. Falantes, divertidas.

Isso é falso? Ela é falsa? De jeito nenhum. Muitos são os nossos pedaços. Diversas as nossas reações. Ela não quer preocupar os outros. Ela se cobra estar bem para os filhos. Ela não quer incomodar ninguém com seus problemas. Por isso ela faz das tripas coração, e ri.

Quando não consegue rir, se esconde dentro de casa, dentro dela mesma. E sofre. Essa parte você não vai assistir. Essa alegria é uma máscara? Diria que é uma espécie de autopreservação.

Por que ela se defende? A sociedade é muito preconceituosa com o sofrimento mental. Cruel mesmo. Depressivos são acusados de preguiçosos, mal agradecidos, sem Deus no coração.

As pessoas com doenças físicas têm todo nosso apoio. Toda nossa generosidade. As que sofrem com as dores da alma, só dedo apontado com críticas e cobranças.

Aparentar ser alegre pode ser uma fuga? Uma negação da tristeza? Uma forma de achar de não é grave e vai passar. Que a gente sozinho resolve. Não resolve. O risco? Acabar se enfiando mais e mais no buraco.

A depressão chega aos poucos. Vem arrasando tudo pelo caminho. Destrói as noites de sono. A energia de acordar. O prazer de comer. Ou a possiblidade de parar de comer, numa compulsão macabra sem fim.

Viver fica difícil. Dormir fica difícil. Acordar fica difícil. Tomar banho também. Se cuidar? Um sacrifício. Tudo cansa. Tudo estressa. Há uma tensão constante no ar.

É um susto ver pessoas alegres que, do nada, se matam. Não eram felizes? Não, não eram. Tentavam. Queriam muito conseguir ser. Só não conseguiram. Esse é o grande risco.

Sorria, se preferir, mas busque ajuda. Na família, nos amigos. Nem todo mundo compreende? Nem todos conseguem ajudar? Fique com os que conseguem.

Em momentos de dor, a terapia pode ser muito importante. Um espaço para abrir o coração, passar a limpo suas mágoas. Rever conceitos e relacionamentos. Elaborar medos e dificuldades.

Sorrir ilumina, é ótimo, mas chorar lava a alma. Chorar faxina por dentro. A terapia é a faxina que, às vezes, precisa ser feita. Assusta? Um pouco. Por isso costumo dizer que terapia é para fortes. Só para fortes.

Não os fortes que se julgam perfeitos e apontam dedos. Esse são falsos. Os fortes são os que têm a coragem de pedir ajuda, se abrir, se mostrar e lutar para ser, de verdade, feliz.


*Por: Mônica Raouf El Bayeh

Mônica é carioca, professora e psicóloga clínica. Especialista em atendimento a crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias. Perita judicial.

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