Você morre… e fica tudo aí.
Você morre.
E fica tudo aí.
Fica o celular desbloqueado, com mensagens que você nunca respondeu.
Ficam as notificações que pareciam urgentes, mas que agora não fazem mais sentido.
Fica o carro que você tanto cuidava, que ninguém mais vai dirigir do seu jeito.
Fica a casa que você sonhou, decorou, protegeu — e que agora vai ser esvaziada aos poucos, por mãos que tentam entender o que você deixou.
Ficam as roupas dobradas, as gavetas organizadas, os perfumes pela metade.
Ficam os planos rabiscados num caderno, os sonhos que você adiou, os lugares que você jurou visitar “quando der tempo”.
Você morre.
E o mundo continua.
As pessoas choram, sim. Algumas muito. Outras, em silêncio.
Mas depois, elas seguem.
Porque a vida não para pra ninguém.
O tempo não faz pausa por luto.
E a rotina engole até a saudade.
Você morre.
E os compromissos que pareciam inadiáveis são cancelados com uma mensagem curta: “Infelizmente, ele faleceu.”
A reunião é remarcada.
O projeto é repassado.
O cargo é substituído.
A ausência vira lembrança.
E a lembrança, com o tempo, vira silêncio.
Você morre.
E tudo aquilo que você guardou com tanto zelo — os sapatos, os livros, os documentos, os segredos — vira herança, doação, lixo.
Alguém vai decidir o que fazer com o que você achava que era só seu.
Alguém vai abrir suas gavetas.
Alguém vai ler suas anotações.
Alguém vai encontrar fotos que você escondeu, cartas que você nunca enviou, versões de você que ninguém conhecia.
Você morre.
E o que fica?
Fica o que você foi.
Fica o que você fez sentir.
Fica o que você construiu dentro dos outros — não fora.
Fica o abraço que curou.
Fica o riso que ecoou.
Fica o conselho que salvou.
Fica o amor que você deu, mesmo sem saber se voltaria.
Porque no fim, tudo que é matéria se desfaz.
Mas o que é alma, o que é gesto, o que é presença — isso permanece.
Então, por favor:
Não viva como se fosse eterno.
Não adie o que faz seu coração vibrar.
Não economize palavras bonitas.
Não se esconda atrás de desculpas.
Não espere o momento perfeito — ele não existe.
A vida é agora.
É esse instante.
É esse suspiro.
Você morre.
E fica tudo aí.
Menos o que você viveu de verdade.
Isso… isso vai com você.
Ou permanece nos outros.
E é só isso que vale.
*César