Recomeçar com Leveza

 


Em algum momento da caminhada, todos carregam marcas que o tempo não apaga com facilidade. São cicatrizes silenciosas que se formam a partir de palavras ditas no impulso, de silêncios que ferem mais do que qualquer som, de gestos que não foram compreendidos como se pretendia. São experiências que, mesmo sem intenção de causar dor, deixam rastros no coração — tanto no próprio quanto no dos outros.

A convivência humana é feita de encontros e desencontros, de tentativas e falhas, de afetos e distâncias. E, por vezes, o coração se vê pesado — não apenas pelas dores que sofreu, mas também pelas que, sem perceber, causou. É nesse ponto que a reflexão se torna não apenas necessária, mas urgente. Reconhecer que mágoas podem ter se instalado, mesmo sem convite. Que feridas podem ter sido abertas, mesmo sem maldade. E que o perdão — tanto o que se pede quanto o que se oferece — é um passo essencial para a leveza da alma.

Perdoar não é esquecer, nem justificar o que machucou. É, antes de tudo, libertar-se do peso que impede o caminhar. É abrir espaço para que a paz volte a habitar o íntimo. E pedir perdão não é sinal de fraqueza, mas de grandeza. É admitir que se é humano, falho, mas também capaz de crescer, de aprender, de se transformar.

A vida, com suas exigências e surpresas, nem sempre permite que tudo seja resolvido de imediato. Às vezes, o tempo necessário para curar é maior do que se gostaria. Mas há sempre espaço para a intenção sincera de reparar, de compreender, de aliviar. Quando o peso se torna grande demais, é sinal de que algo precisa ser deixado para trás — não por descuido, não por indiferença, mas por sabedoria. Porque seguir em frente exige leveza.

Que haja disposição para aliviar o que oprime. Que haja humildade para reconhecer os próprios limites. Que haja coragem para olhar para dentro e perceber o que ainda precisa ser curado. E que, mesmo em silêncio, cada um possa encontrar um caminho de reconciliação — consigo mesmo, com os outros, com a própria história.

Nem sempre é possível voltar ao ponto de partida. Algumas palavras não podem ser desditas, algumas atitudes não podem ser desfeitas. Mas é sempre possível recomeçar de onde se está. Com mais consciência, com mais empatia, com mais paz. Porque recomeçar não é negar o que passou, mas escolher o que se quer levar adiante.

E, no fim, talvez seja isso que mais importa: a capacidade de seguir com o coração mais leve, com a alma mais serena, e com a certeza de que, apesar de tudo, ainda é possível florescer


*César

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