Que Eles Saibam

 


Uma Reflexão Sobre Amor e Presença na Família

A vida é feita de ciclos. De inícios e fins. De encontros que aquecem e despedidas que doem. De momentos que chegam sem aviso e partem sem pedir permissão. E, no meio dessa pressa cotidiana, entre compromissos, distrações e rotinas que se repetem, é fácil esquecer o essencial: que as pessoas que amamos precisam saber — e sentir — que são amadas.

A família é o primeiro território do afeto. É onde aprendemos, ainda antes das palavras, o que é cuidado, o que é presença, o que é vínculo. É onde os gestos falam mais alto que os discursos, onde o silêncio pode ser aconchego, onde o amor se manifesta nas pequenas coisas: no prato preferido servido sem alarde, no cobertor puxado durante a noite, no olhar que diz “estou aqui” mesmo quando não se diz nada.

Mas, por ser tão próxima, a família é também o lugar onde mais se adia o que deveria ser dito com urgência. Porque achamos que o outro já sabe. Que não precisa ouvir. Que está implícito. E assim, vamos empilhando silêncios onde caberiam palavras. Vamos adiando abraços, postergando conversas, deixando para depois o que deveria ser agora.

Quantas vezes deixamos para depois aquele “eu te amo”? Quantas vezes engolimos um pedido de desculpas, esperando um momento mais propício? Quantas vezes deixamos de elogiar, de agradecer, de reconhecer, como se o tempo estivesse sempre ao nosso favor?

Mas o tempo é imprevisível. Ele não avisa quando vai mudar tudo. Ele não espera que a gente esteja pronto. Ele simplesmente passa. E o que hoje parece garantido, amanhã pode ser apenas lembrança. E quando alguém parte — seja por um tempo, seja para sempre — o que mais dói não é a ausência em si, mas o que ficou por dizer. O abraço que não foi dado. O perdão que não foi pedido. O carinho que não foi demonstrado. A presença que não foi valorizada.

Por isso, é preciso viver com intenção. Amar com presença. Falar com o coração. Que os nossos pais saibam que são amados, mesmo quando não concordamos com eles. Que os nossos irmãos saibam que são importantes, mesmo quando a vida nos afasta. Que os nossos filhos saibam que são prioridade, mesmo quando estamos cansados. Que os avós, os tios, os primos, os amigos que viraram família — todos saibam, sem sombra de dúvida, que têm um lugar no nosso coração.

Não espere datas especiais. Não espere que a saudade fale mais alto do que a convivência. Diga hoje. Demonstre hoje. Abrace hoje. Porque o amor que se vive agora é o que constrói as memórias que vão sustentar o amanhã. E o que se constrói com afeto hoje, se transforma em legado amanhã.

E se um dia a vida nos separar — como inevitavelmente faz — que não reste arrependimento. Que fique a certeza de que o amor foi vivido, dito, sentido. Que cada um que passou por nós saiba que foi visto, ouvido, valorizado. Que não fomos apenas presença física, mas presença emocional. Que deixamos marcas — não de ausência, mas de afeto.

Porque no fim, o que realmente importa não é o que deixamos para os outros, mas o que deixamos nos outros. E isso só se constrói com palavras ditas, gestos feitos, abraços dados, silêncios respeitados, e amor vivido — de verdade.

Que eles saibam. Que saibam hoje. Que saibam sempre.


*César

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