E Se o Amanhã Não Vier?
Vivemos como se o tempo fosse infinito. Como se os dias se estendessem diante de nós em uma linha contínua, sempre oferecendo novas chances, novos encontros, novas palavras. Como se a vida nos pertencesse por direito e não por milagre. Mas e se o amanhã não vier?
Essa pergunta, simples e direta, carrega um peso imenso. Ela não é uma ameaça, mas um convite. Um chamado à consciência, à presença, à urgência de viver com verdade. Porque o amanhã — por mais que o desejemos, por mais que o planejemos — não é uma promessa. É apenas uma possibilidade. E possibilidades, por mais belas que sejam, não substituem a realidade do agora.
E se o amanhã não vier, o que ficou por dizer? Quantos “eu te amo” foram guardados por orgulho ou distração? Quantos pedidos de perdão foram adiados, esperando um momento mais conveniente? Quantos abraços foram evitados, quantas conversas foram deixadas para depois, quantos gestos de carinho foram engavetados em nome da pressa?
Quantas vezes se acreditou que haveria tempo? Tempo para reparar, para explicar, para voltar atrás. Tempo para estar presente, para ouvir com atenção, para demonstrar afeto. Mas o tempo, esse senhor silencioso, não avisa quando decide partir. Ele simplesmente vai. E leva com ele tudo o que não foi vivido.
A vida é frágil. E justamente por isso, é preciosa. Cada instante vivido é uma oportunidade única de se conectar com o que realmente importa. De olhar nos olhos. De ouvir com o coração. De tocar com gentileza. De estar, de fato, presente. Porque a presença é o maior presente que se pode oferecer — e também o mais difícil de manter quando se vive no piloto automático.
Se o amanhã não vier, o que restará do hoje? Terá sido um dia vivido com autenticidade ou apenas mais um na fila dos que passaram despercebidos? Terá sido um dia de reconciliação ou de distanciamento? De presença ou de ausência? De entrega ou de omissão?
Essa reflexão não é um convite ao medo, mas à consciência. Não se trata de viver com ansiedade, mas com intenção. De perceber que o tempo é um bem que não se acumula. Que o amor precisa ser demonstrado enquanto há tempo. Que o perdão precisa ser oferecido enquanto ainda há ouvidos para recebê-lo. Que a presença precisa ser sentida enquanto ainda há mãos para segurar.
É fácil adiar o essencial. É fácil acreditar que haverá outra chance, outro momento, outra oportunidade. Mas a verdade é que o essencial não pode esperar. O essencial precisa ser vivido agora — com coragem, com vulnerabilidade, com inteireza.
E se o amanhã não vier, que o hoje tenha sido suficiente. Que tenha havido verdade nas palavras, sinceridade nos gestos, compaixão nas atitudes. Que tenha havido tempo — não no relógio, mas no coração. Que cada escolha tenha sido feita com consciência. Que cada silêncio tenha sido respeitoso. Que cada presença tenha sido inteira.
Porque o que se faz hoje ecoa para sempre. E o que se adia indefinidamente pode nunca mais encontrar seu momento. O tempo não volta. As palavras não retornam. As oportunidades não se repetem da mesma forma.
Então, viva. Diga. Abrace. Perdoe. Recomece. Esteja. Sinta. Demonstre. Porque o amanhã pode não vir. Mas o hoje está aqui. E ele é tudo o que realmente temos.
E se for o último, que tenha valido a pena.
*César