E se fosse você?


E se fosse você?

Se um dia acordasse e ninguém mais te chamasse pelo nome com carinho.
Se a casa estivesse cheia de móveis, mas vazia de vozes.
Se o relógio marcasse as horas, mas ninguém mais marcasse presença.
Se o telefone tocasse só por engano — ou nem isso.
Se o tempo passasse devagar demais, e ninguém mais tivesse tempo pra você.

E se fosse você…
Com o corpo cansado, a memória falhando, e o coração cheio de lembranças que ninguém mais quer ouvir.
Se as fotos antigas fossem suas únicas companhias.
Se o cheiro do café da manhã não viesse mais da cozinha, mas da saudade.
Se o mundo lá fora seguisse correndo, enquanto você espera alguém lembrar que você ainda está aqui.

Porque é isso que muitos idosos vivem.
Todos os dias.
Em silêncio.
Em esquecimento.
Em abandono.

Eles não pedem luxo.
Não querem aplausos.
Não esperam presentes caros.
Só querem ser lembrados.
Querem um “bom dia” com verdade.
Um abraço sem pressa.
Uma conversa que não seja por obrigação.
Um olhar que diga: “você ainda importa.”

Mas o que recebem, muitas vezes, é o silêncio.
É a porta fechada.
É o desprezo disfarçado de “falta de tempo”.
É a impaciência com a lentidão.
É a irritação com a repetição.
É a violência que não deixa marcas no corpo, mas machuca a alma — todos os dias, um pouco mais.

E o mais triste?
É que muitos deles já foram tudo pra alguém.
Foram colo.
Foram sustento.
Foram abrigo.
Foram quem abriu mão de si para cuidar de outros.
Foram quem segurou firme a mão de alguém que hoje solta a deles sem pensar.

E hoje, são tratados como se tivessem vencido o prazo de validade.
Como se fossem peso.
Como se fossem passado — quando ainda estão vivos no presente.

Mas gente não expira.
Gente sente.
Gente precisa de afeto até o último suspiro.
Gente precisa ser vista, ouvida, tocada — mesmo quando a voz falha, mesmo quando o corpo já não acompanha.

Então, antes de virar o rosto, pense:
E se fosse você?
Se fosse o seu futuro sendo ignorado no presente?
Se fosse você esperando por uma visita que nunca chega?
Se fosse você tentando lembrar o nome de alguém que já te esqueceu?

Porque um dia, será.
E o que você faz hoje com os idosos ao seu redor…
É o que o tempo devolverá a você.

Cuide.
Ame.
Esteja presente.
Pergunte como foi o dia.
Ouça a mesma história pela quinta vez.
Segure a mão com firmeza.
Diga “eu te amo” sem pressa.
Dê valor enquanto ainda há tempo.

Eles não precisam de pena.
Precisam de respeito.
Precisam de você.

Porque no fim, o que envelhece é o corpo.
Mas o que dói é quando o amor também envelhece — e morre antes da pessoa.

Não deixe isso acontecer.
Não com eles.
Não com você.


*César

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