O fardo que escolhemos carregar…


De acordo com a mitologia grega, Atlas era um titã que dominado pela ganância de conquistar o Olimpo e ter o poder supremo, juntou-se a outros titãs e atacaram os deuses.


Mas os titãs não tiveram sucesso em seu ataque e foram derrotados, então, Atlas foi condenado por Zeus a carregar o mundo nos ombros.


Eu resolvi utilizar o conto de Atlas para retratar algo que vejo, muito frequentemente, com as pessoas, hoje em dia. Com o amplo acesso a informação, com tantas opções e tantas possibilidades, vejo que as pessoas são dominadas pela ganância de ter tudo e ser tudo, e se colocam em uma caminhada para tentar engolir o mundo.


A geração dos nossos pais e avós, diferentes de nós, não tinham tantas opções e possibilidades de escolha, não estou falando que ter essas opções é algo ruim, pelo contrário, a era da informação trouxe até nós coisas que antes eram inimagináveis como: o ensino a distância, conhecer o mundo todo por um smartphone, estar longe e ao mesmo tempo perto com a ajuda das redes sociais, e tudo isso junto nos oferece a capacidade de acumular muitas experiências e conhecer coisas novas a todo o momento.


Hoje podemos explorar o mundo de várias formas, tudo se torna uma experiência, tudo se torna uma viagem e um processo. Só que nem tudo são flores nesse mundo de informações rápidas, e a pluralidade de estilos de vida gera uma competição irreal e inconsciente; queremos ter o que os outros têm, queremos ser o que os outros são, queremos ter tudo e ao mesmo tempo não escolher nada.


O ser humano sempre achou a grama do vizinho mais verde, isso acontece desde quando o mundo é mundo, mas o que mudou é que antigamente nossos vizinhos eram algumas pessoas, hoje o mundo todo é nosso vizinho. Podemos conhecer partes (a maior delas falsas) da vida de muitas pessoas, e tudo isso ao mesmo tempo, e queremos ter a possibilidade de viver aquilo tudo também.


Queremos ser os nômades digitais e viver uma semana em cada lugar, mas queremos ser o empresário de terno e viciado em trabalho, postando sobre nosso dia corrido em Wall Street. Queremos o amor eterno, enquanto aproveitamos a vida de solteiro. Queremos ter uma casa com jardim e um cachorro enquanto sonhamos em fazer um mochilão, sem rumo pelo mundo. Buscamos uma vida planejada sem ter que fazer planos, e encontramos uma vida livre sem liberdade, ficamos presos aos nossos sonhos utópicos de uma vida plena, uma vida completa, uma vida sem renúncias e consequências.


O excesso de informação nos coloca presos em um ciclo onde a cada cinco minutos coisas novas acontecem e nós queremos todas elas, queremos consumir tudo, queremos ser tudo, queremos viver tudo.


Mas a vida é um jogo de escolhas, algumas delas, sem volta; algumas delas são uma viagem só de ida, e quando escolhemos algo, estamos renunciando a dezenas de outras coisas, e isso é inevitável! Nossos pais e avós sabiam muito bem disso, por isso ouvíamos por diversas vezes a frase mais falada pelos pais: “Você não é todo mundo”.


Precisamos refletir mais sobre isso: Se não somos todo mundo, por que ainda queremos ser o mundo todo? 


Conheça a si mesmo e se reconheça, saiba quem você é e quem você deseja ser, entenda onde você está e aonde quer chegar. O psicólogo Fritz Perls dizia: “Quanto mais a sociedade exige que o indivíduo corresponda aos seus conceitos e ideias, menos eficientemente ele consegue funcionar”.


Estamos agindo como Atlas, estamos querendo dominar o mundo e atingir o poder absoluto, no nosso caso, é o poder de viver tudo que existe de todas as formas possíveis e, por isso, estamos sendo condenados a carregar o mundo em nossos ombros.


Toda vez acabamos olhando em volta, e por mais que façamos e conquistemos coisas, parece que nunca é o bastante, que nunca temos o suficiente para mostrar aos outros, e esse mundo que carregamos acaba ficando cada vez mais pesado, até se tornar insuportável.


Enquanto você perseguir sonhos que não são seus, ideais que não existem em você, e insistir em uma vida onde você tenta ser quem acredita que eles querem que você seja, ou tentar viver o que os outros vivem só para se parecer com eles, vai acabar como já diria um ditado que eu uso com muita frequência: “Procurando sua carteira onde você não perdeu”.


Porque essa é a realidade dessa busca insana, estamos buscando nossa felicidade onde ela não está.


*Michel Mansur


Direitos autorais da imagem de capa: ximagination / 123RF Imagens 

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