Algumas vitórias são secretas, e nem por isso menos valorosas. Superação nem sempre envolve um feito extraordinário


No instante em que acordamos de uma noite qualquer, nem podemos imaginar o que o dia nos guarda, muito menos uma vida inteira. O que se passará a anos daqui é loucura tentar acertar. Cada pessoa tem sua história, seu tempero e sua medida, como cada milho que se arrebenta e se torna pipoca, cada um “explode” ou “estoura” no tempo certo.

Há quem prefira regar aos poucos, dando luz e conforto, independentemente da estação, há quem goste de adubar, modificar, transformar para, num futuro, engrandecer-se com o que poderá encantar, e há quem jogue com a sorte e, num passe de mágica, descubra que ganhou muito mais do que estava previsto.

As linhas são mesmo tortas, mas é certo que passar do limite que nos mantém em determinado lugar nos garante um desfecho diferente.

E apostar no que não se conhece, além de testar nossa confiança, retira-nos da área limítrofe entre o esperado e o resultado, entre o planejado e o consolidado. Porque a vida pode ser orquestrada e comandada, mas há muito mais instrumentos em que nem sonhamos tocar, mas que, em certos momentos, resolvem ser a parte principal da nossa trilha sonora.

E, mesmo que tudo nos pareça distante, que juremos de pés juntos: “aquilo não é para mim”, um dia, a vida o vira do avesso, joga-nos na fogueira e nos diz: “você pode”.

Isso nos mostra que não existem barreiras senão os próprios pensamentos, que não existem freios piores do que nossos autojulgamentos. E nos libertar disso é avançar àquela linha em que insistimos aconselhar o outro a ultrapassar.

Algumas vitórias são secretas, e nem por isso menos valorosas. São nossas e, mesmo guardadas no nosso íntimo, fazem-se notáveis do lado de fora. Superação nem sempre envolve um feito extraordinário. Não precisamos correr uma maratona desafiadora nem vencer um campeonato de matemática, muito menos entrar para o Guiness ou ser lembrados por algo importante que tenhamos feito.

Vencer os próprios medos, driblar as limitações é avançar no ponto que imaginávamos ser a linha de chegada.

Às vezes, dar corda para a vida envolve também acreditar em que tudo é possível, que vive melhor quem não se restringe ao que é familiar, quem não bloqueia o que chega sem avisar, e quem aprende que, mesmo que pareçam inusitados, há capítulos que chegam para somar, para ilustrar, servem para rechear aquele livro de cabeceira com a melhor parte de todas, aquela que grifamos e guardamos, que recontamos e da qual nunca mais deixamos de lembrar…

*Flavia Bataglia  

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