A última viagem de táxi

Divido com você uma linda mensagem de amor e de vida.

“Houve um tempo em que eu ganhava a vida como motorista de táxi. Os passageiros embarcavam totalmente anônimos. E, às vezes, me contavam episódios de suas vidas, suas alegrias e suas tristezas. Encontrei pessoas que me surpreenderam. Mas, nenhuma como aquela da noite de 25 de julho do último ano em que trabalhei na praça. Havia recebido, já tarde da noite, uma chamada vinda de um pequeno prédio de tijolinhos, em uma rua tranquila, no centro histórico de Curitiba. Resolvi atender a última chamada que deveria ser breve. 

Quando cheguei ouvia cachorros latindo longe. O prédio estava escuro. Havia uma única lâmpada acesa numa janela do térreo. Este passageiro pode ser alguém que necessita de ajuda, pensei. Assim, fui até a porta e bati. “-Um minutinho”, respondeu uma voz fraca e idosa. Ouvi alguma coisa ser arrastada pelo chão… Depois de uma pausa longa, a porta abriu-se. Vi-me então diante de uma senhora bem idosa, pequenina e de frágil aparência. Usava um vestido estampado e um chapéu bizarro! Se equilibrava numa bengala, enquanto segurava com dificuldade uma pequena mala. Dava para ver que a mobília estava toda coberta com lençóis. Não havia adornos sobre os móveis. 

A velha senhora, esboçando então um tímido sorriso, pediu-me: “- O senhor poderia me ajudar com a mala?”. Eu peguei a mala e ajudei-a a caminhar lentamente até o carro. Enquanto se acomodava ela me agradeceu. “- Oh, disse-me ela, você é um bom rapaz!”. Quando embarcamos, deu-me um endereço e pediu: “- O senhor poderia ir pelo centro da cidade?” Este não é o trajeto mais curto, alertei-a prontamente. “- Eu não me importo. Não estou com pressa. Meu destino é o último, o asilo dos velhos.” Surpreso, eu olhei pelo retrovisor.

Os olhos da velhinha brilhavam marejados.

“- Eu não tenho mais família e o médico me disse que tenho muito pouco tempo de vida.”. Disfarçadamente desliguei o taxímetro e perguntei: “- Qual o caminho a senhora deseja que eu tome?”. Nas horas seguintes nós dirigimos por toda a cidade. Ela mostrou-me o edifício na Barão do Cerro Azul em que havia trabalhado como ascensorista. Passamos pelo Centro Cívico, em que ela e o esposo tinham vivido como recém-casados, e também por uma Igreja no Alto da Glória, aonde comemoraram as Bodas de Ouro. Ela pediu-me que passasse em frente a uma loja na Rua Dr. Muricy, que ela dizia ser um clube alemão, que tinha um grande salão de dança que ela freqüentara quando mocinha. Às vezes pedia-me para dirigir vagarosamente em frente a um edifício ou esquina e ficava com os olhos fixos na escuridão. Olhava e suspirava… E assim rodamos a noite inteirinha. Passamos por parques, praças, restaurantes, tudo o que vinha vindo na sua imaginação e lembrança.

Quando os primeiros raios do sol surgiram no horizonte, ela disse de repente: “- Estou cansada e pronta. Vamos agora!”. Seguimos para o endereço que ela havia me dado. Chegamos a uma pequena casa de repouso. Duas atendentes caminharam até o táxi e logo se acercaram da senhora, a quem pareciam esperar. Eu abri o porta-malas do carro e levei a pequena valise até a porta. A senhora, já sentada em uma cadeira de rodas, perguntou-me então pelo custo da corrida. “- Quanto lhe devo?”, ela me perguntou, pegando a bolsa. Respondi que não devia nada, pois tinha outros passageiros. “-Você tem que ganhar a vida, meu jovem!”. Ela insistiu, disse que não precisava mais de dinheiro, e colocou 2 mil reais no bolso da minha camisa. Eu não quis aceitar, mas ela foi incisiva e quase sem pensar, curvei-me e dei-lhe um abraço. Ela me envolveu comovidamente, me deu um beijo afetuoso e disse:

“- Você deu a mim bons momentos de alegria, como não tinha há tanto tempo. Visitamos não só lugares, mas momentos que eu vivi. Só Deus é quem sabe o quanto você fez por mim. Obrigada, meu amigo!”.

Apertei a sua mão e caminhei até o carro. Era como o som do término de uma vida… Sai daquele lugar com meu coração batendo de uma forma diferente. Dirigi olhando o centro da cidade amanhecendo ao fundo e não conseguia parar de chorar e pensar em como vivemos e ao que damos valor, se daqui não levamos nada. Naquele dia não peguei mais passageiros. Dois dias depois tomei coragem e voltei no asilo para ver como estava a minha nova amiga e quem sabe passear com ela de novo. Disseram-me, então, que na noite anterior, seu coração parou durante a noite, e ela adormecera para sempre, em paz e feliz.”

Em geral nos condicionamos a pensar que nossas vidas são os nossos objetivos e o nosso futuro. Mas a vida nos leva a vivenciar grandes momentos. Todavia, os grandes momentos nos pegam desprevenidos e ficam guardados em nossa alma. Quando nos damos conta vimos que nos esquecemos deles. As pessoas podem não lembrar exatamente o que você fez, ou o que você disse, porém elas sempre se lembrarão da forma carinhosa que você as tratou. Podemos fazer a diferença na vida das pessoas!!!

* Por Beth Landim

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