Não é que a gente fica diferente. É que o tempo passa, e a gente aprende.



Aprende que nem tudo que brilha é ouro. Que nem todo afeto é amor. Que nem toda presença é companhia. E que nem toda palavra dita com doçura vem de um lugar sincero.

A gente aprende que o que parece cuidado pode ser controle. Que o que parece atenção pode ser carência disfarçada. Que o que parece amor pode ser apego, medo, ou simplesmente hábito. E que o que parece companhia pode ser só ausência bem maquiada.

A gente amadurece. E com isso, começa a enxergar com mais clareza. Começa a perceber que reciprocidade não é luxo — é base. Que carinho sem retorno vira peso. Que atenção sem verdade vira ilusão. Que insistir onde não há espaço é uma forma de se abandonar.

A gente começa a entender que o amor não é sobre intensidade — é sobre constância. Que não é sobre promessas — é sobre presença. Que não é sobre palavras bonitas — é sobre atitudes coerentes. E que não é sobre estar junto — é sobre estar inteiro.

O tempo não muda quem somos — ele revela. Ele tira as camadas, as expectativas, os medos. Ele mostra o que realmente importa. E, principalmente, mostra quem realmente importa.

Ele nos ensina a diferenciar o que é essencial do que é excesso. A reconhecer o que é verdadeiro e o que é conveniente. A valorizar o que nos nutre e a deixar o que nos esgota.

A gente vai se desapegando. Não por frieza, mas por amor próprio. Vai soltando o que não nos acolhe, o que não nos escuta, o que não nos vê. Vai entendendo que estar em paz é melhor do que estar acompanhado por conveniência.

Vai percebendo que o silêncio pode ser mais saudável do que uma conversa que fere. Que a solitude pode ser mais rica do que uma presença vazia. Que a ausência de alguém pode ser o início da presença de si.

Desapegar não é esquecer. É respeitar o que foi, mas seguir em frente. É agradecer pelo aprendizado, mas não carregar o peso. É deixar ir o que não volta com verdade. É abrir espaço para o novo, para o leve, para o recíproco.

E nesse processo, a gente se encontra. Se reconstrói. Se fortalece. Aprende a escolher com mais calma, a amar com mais consciência, a dizer “não” sem culpa, a dizer “sim” com coragem.

A gente aprende que o amor não deve ser mendigado. Que a atenção não deve ser implorada. Que o afeto não deve ser condicionado. Que o cuidado não deve ser cobrado.

A gente aprende que o que é verdadeiro permanece. E o que não é… ensina.

Ensina a não se perder por ninguém. Ensina a não se calar por medo de desagradar. Ensina a não se diminuir para caber em espaços apertados. Ensina a não se esquecer para lembrar o outro.

Então não, a gente não fica diferente. A gente só para de aceitar o que não nos serve. A gente só começa a se escolher. A se respeitar. A se priorizar. A se amar.

E isso, talvez, seja a forma mais bonita de amadurecer.


*César

Postagens mais visitadas