Amar-te-ei

Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer.

* Clarice Lispector

Que passem os minutos, dias e anos...
Todas as estações do tempo! 
Que eu viva, qual tolo, todas as ilusões
pueris de sentimento... 

Amar-te-ei, em todas as épocas,
em todo momento
Que passem as águas por muitas pontes
e que debruce a saudade por muitas
serras e montes, amar-te-ei, 
como se fosse a primeira vez e única,
apesar das tantas aventuras! 
Ainda além deste céu, nas alturas.
Eternamente...
Ainda que outro alguém o tenha
entre lençóis confidentes, 
mesmo que os beijos sejam molhados
e quentes, 
à parte, nossa alma vaga enamorada,
sobre qualquer prazer da carne ou qualquer
entrega fugaz . 
Eternas, apaixonadas 
Amar-te-ei, sobre qualquer dor que me pese
o orgulho ferido, o despeito revolvido! 
Sobre qualquer punhalada em meu coração, 
sobre qualquer distância a nós imputada...
Porque sei, amor de mim , que ainda assim... 
Não é pequeno o nosso comprometimento . 
Ah! Soubessem todos o tamanho! 
Pobre carne, pequeno tempo!

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