Perdão


“Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido”. Esse trecho da oração do Pai Nosso diz tudo a respeito do perdão, que é pouco praticado entre as pessoas e se mostra necessário para todos se libertarem de sentimentos ruins como a vingança, raiva, tristeza.

De acordo com a psicóloga e psicoterapeuta Olga Tessari, o ato de perdoar encerra o assunto e dá uma nova possibilidade para a reconciliação e o recomeço com o outro. “A Bíblia diz: ‘perdoai porque eles não sabem o que fazem’ e, em geral, a pessoa que magoou realmente não o fez com a intenção de machucar, ferir. Portanto, ao invés de ficar se lamuriando e se torturando por estar ferido, nada melhor do que entender que o outro não teve esta intenção”, afirma.


Mesmo assim, a palavra ainda causa calafrios em algumas pessoas. “A palavra perdoar para mim é muito forte. Desculpar ficaria melhor. Antes eu falava que quem perdoa é Deus, nós não temos esse direito. O mau (seja como for) não deixará de ser com o passar do tempo, mas mais forte que isto é o bem que futuramente possamos fazer”, diz o programador Sidnei Inácio Silva, 26.

Ele afirma já ter perdoado e superado o problema, que se transformou pequeno, tendo em vista que ele venceu a situação vivida. Para ele, o perdão acontece de acordo com a gravidade do ato supostamente equivocado: “O tamanho da ferida e da cicatriz, às vezes, é grande”, admite. No ato de pedir perdão Silva escancara que seu desejo é estar bem com quem magoou, por isso, pede desculpas sem pestanejar.

A estudante Aline Aparecida Carli, 19, acredita não ter vivido até o momento nenhum problema sério que ela precisasse perdoar ou solicitar o perdão. Mas considera ser difícil de as pessoas perdoarem por elas serem “egoístas” ao não perceberem o outro lado do problema. “Tem todo um sentimento de mágoa, decepção, que é difícil de as pessoas esquecerem e relevarem”, aponta.
Perdoar é complicado
Pessoas têm dificuldade em admitir que a outra agiu diferente, diz psicóloga
Tanto o ato de perdoar quanto o de pedir perdão são verdadeiros tabus nas relações humanas. Aceitar o jeito do outro e desculpá-lo por algum equívoco e, por outro lado, saber admitir o erro, são dois problemas que põem em risco os relacionamentos.

E para tratar disto conversamos por email com a psicóloga Olga Tessari, que vai abordar estes dois pontos centrais na questão do perdão, bem como apontar caminhos no meio deste dilema que elevem a situações benéficas de parte a parte.

Site Padre Marcelo Rossi – Por que é tão difícil das pessoas perdoarem?

Olga Tessari: Para perdoar é preciso aceitar o fato de que, se a pessoa errou, ela não tinha a intenção consciente de fazer o que fez, de que errar é humano e que se ela feriu ou magoou, não o fez propositalmente. Perdoar é também aceitar o fato de que somos seres humanos e que faz parte da nossa natureza errar, embora o erro não seja a nossa intenção, todos queremos acertar sempre. No consultório é comum ouvir estas frases: “não admito que ele tenha feito isso comigo”, “não entendo porque ela fez isso”, “jamais imaginei que ela pudesse fazer isso”, “eu não esperava isso da parte dele”. Essas frases mostram a dificuldade das pessoas em admitirem que a outra pessoa não agiu de acordo com suas expectativas. E é essa dificuldade que impede as pessoas de perdoarem, justamente porque elas não aceitam que a outra pessoa tenha agido de forma diferente daquela esperada.


Site Pe. Marcelo – Quem ama perdoa?

Olga Tessari: Nem sempre. Tudo vai depender do quanto a atitude errada do outro a feriu, da intensidade da dor que ela sente, dos seus próprios valores e de seu orgulho, entre outros fatores. Há pessoas que, mesmo amando muito, tem uma dificuldade enorme de perdoar por não admitirem que tenham sido machucadas. Uma frase que caracteriza bem a dificuldade do perdão: “Ele(a) não podia ter feito uma coisa dessas comigo, eu não mereço!”. Por outro lado, há pessoas, que por amar muito e por quererem manter seu relacionamento (seja de amizade, familiar, de trabalho ou amoroso) perdoam após o período desta dor.

Site Pe. Marcelo – A confiança segue a mesma após um ato de traição?

Olga Tessari: É claro que a confiança fica abalada num primeiro momento, pois a fidelidade faz parte do acordo implícito de um relacionamento amoroso. Todos esperam que a fidelidade seja mantida, portanto, confiam que o parceiro não vai quebrar este acordo. Então, quando este acordo é quebrado, é claro que as pessoas deixam de confiar cegamente, passam por um período de desconfiança muito grande, mas, aos poucos, sua confiança pode ser resgatada em função de como serão as “novas” atitudes da pessoa que traiu, se ela agir no sentido de reconquistar a confiança perdida. Mas há casos de pessoas que perdem a confiança totalmente e que, mesmo com o passar do tempo, por mais que as atitudes da outra pessoa indiquem que se pode voltar a confiar nela, não conseguem restabelecer a confiança perdida. Nestes casos, ou o relacionamento acaba ou então a pessoa deve buscar a ajuda profissional de um psicólogo para entender o que a leva a não perdoar, mesmo querendo manter seu relacionamento. 

Site Pe. Marcelo – Uma pessoa que sofre muito por algum ato de traição sofrido, se perdoar ela consegue se livrar dessa angústia?

Olga Tessari: Sim, o perdão traz consigo o alívio porque a pessoa deixa de sofrer. Seria o momento em que a confiança é resgatada, onde a angústia da desconfiança se encerra e a mágoa por ter sido ferida se desfaz.


Site Pe. Marcelo – Pedir perdão pode ser uma forma de reconhecer o erro. Mesmo assim, muitas pessoas teimam em não fazê-lo. Por quê?

Olga Tessari: Aqui reside a dificuldade que o ser humano, em geral, tem de admitir seus próprios erros. Por outro lado, tudo vai depender do ponto de vista que se vê o problema. Pode ser que eu veja uma atitude do outro como errada, mas pode ser que o outro não a considere um erro. E é aí que, muitas vezes as pessoas podem ter dificuldade em reconhecer seu erro, justamente porque é a outra pessoa quem está vendo o erro e não elas mesmas. O orgulho também impede a pessoa de admitir publicamente que errou, mesmo reconhecendo-o para si mesma.

* Direitos Autorais deste texto-  © Dra Olga Inês Tessari

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*o texto está registrado de acordo com a Lei de Direitos Autorais

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