Não se case por amor


E você pode estar se perguntando: então eu devo me casar com alguém que não amo?


Talvez você tenha começado a ler este texto justamente por causa deste título. E eu o desafio a olhar para dentro de si neste momento e perceber por que essa afirmação lhe causou interesse, ou quem sabe indignação, dúvida ou qualquer outro sentimento ou emoção.


Aprendemos desde cedo que o amor tudo supera, que devemos amar uns aos outros e que só devemos nos entregar, em um relacionamento, quando de fato houver amor entre ambos.


Dito isso, posso perceber as tantas frustrações acontecendo diariamente em corações de recém-casados ou de casais que, depois de anos juntos, de repente, se veem questionando a veracidade daquele amor que diziam sentir pelo outro.

 

E é aí, nesse exato ponto, que eu quero chegar e conversar com você.


Somos treinadas(os) a procurar a pessoa perfeita, o príncipe ou a princesa, com suas devidas características. Mesmo sabendo que toda essa ideia está se alterando aos poucos, o inconsciente coletivo relacionado ao que seria um relacionamento ideal é muito forte no quesito perfeição.


Quando falo sobre perfeição, muitos retrucam: mas eu não quero que seja perfeito, eu quero apenas que… E aí vem uma lista de qualidades do que se aprendeu, inconscientemente, que seria correto um parceiro ou parceira ter.


No entanto, não é assim que acontece. O príncipe deixa de ser príncipe, a princesa deixa de ser princesa. Aquelas ideias todas do começo do relacionamento, de repente, se veem, uma a uma, indo por água abaixo. E aí começam as discussões, as cobranças, os choros, as separações.

 

Por isso, eu digo e repito: não se case por amor.


Muitas pessoas reclamam de suas esposas, de seus maridos, elencam defeitos, fazem comparações, quase como se tivessem um placar de quem errou mais um com o outro, uma espécie de prazer genuíno em mostrar quão imperfeito o outro é.


Afinal, é muito mais fácil apontar o dedo, quando a dor de olhar para as próprias falhas dilacera o peito e nos assusta de forma incomunicável.


E você pode estar se perguntando: então eu devo me casar com alguém que não amo?

 

Não, você deve se casar sim com alguém que você ama, mas com a certeza de que você não está se casando por amor, você está se casando para amar. Portanto, não se case por amor, case-se para amar.


Amar implica olhar o outro sem as máscaras que ele ou ela usava enquanto ainda representava um príncipe ou uma princesa.


Amar implica acolher as falhas, os defeitos. E acolher é aceitar, aceitar o outro exatamente com tudo o que veio com ele, desde suas características mais íntimas até a sua família.


Sim, quando nos casamos, nós nos casamos com o pacote completo. E se você não está disposto a dizer “sim” para isso tudo, não se case por amor.

 

Amar implica reaprender a amar a cada dia aquela pessoa que está ao seu lado, mesmo com a cara amarrada ou amassada.


Amar implica saber que haverá dias difíceis, dias em que você se questionará se realmente dará conta de toda essa bagagem, dias em que você duvidará até mesmo de si. Porque a vida não é feita apenas de bons momentos, e o casamento também não é.


Amar implica relembrar os bons momentos quando tudo fica estranho, difícil, para então colocar o orgulho no bolso e dizer: ei, vamos parar essa briga por aqui?


Amar, aliás, implica aprender que é preciso escolher com sabedoria qual luta vale realmente lutar e deixar que o outro vença algumas delas, só pelo prazer de ver vocês dois em paz novamente.

 

Amar implica reconhecer que estar sempre certo não é a melhor opção. Às vezes, mesmo certo, é bom parecer o errado, se for em nome de um bem maior.


Casamento implica acolhimento, aceitação, luta, gratidão e muita, muita humildade.


E, se você não estiver disposto a isso, devo lhe dizer: o casamento já começará errado.


Muitos perguntam qual é o segredo de uma vida feliz ao lado de outra pessoa, e eu respondo: o segredo está em se casar para amar.

 

Está em escolher se casar para aprender e reaprender a amar a cada dia, a cada novo amanhecer, a cada novo traço que surgir no outro, a cada nova mania, a cada nova crise. Reaprender a olhar para o outro diariamente com um olhar de interesse.


Afinal, todos nós estamos nos transformando a cada instante, e que maravilha é poder dividir essas transformações e redescobrir o mundo com outro alguém.


Redescobrir um novo jeito de olhar um para o outro e juntos olharmos para o mundo que nós queremos criar para a nossa realidade.


Isso é se propor a se casar para amar e não apenas por amor.

 

*Keissy Kelly 


Direitos autorais da imagem de capa: Flora Westbrook/Pexels.

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