Quando Deus encerra, não escreva continuação
Soltar dói.
E não adianta esconder — a alma sente, mesmo quando o corpo tenta parecer firme.
Porque deixar alguém ir, principalmente quando o sentimento ainda pulsa, não é simples.
É como desapegar de um pedaço de si.
Mas às vezes, é exatamente esse pedaço que está te impedindo de crescer.
Você tentou.
Se doou.
Acreditou.
Remendou o que estava rasgado.
Costurou os silêncios.
Esperou pelos gestos que não vieram.
Fez da esperança abrigo e da fé travesseiro.
Mas o tempo — esse sábio sem rosto — começa a mostrar:
aquilo que você segura está te segurando também.
E há momentos em que Deus age não pelo que diz,
mas pelo que tira.
Ele não precisa justificar.
Seu amor é tão grande que Ele interrompe para proteger.
Fecha portas que você implorava para manter abertas.
Remove presenças que seu coração insistia em eternizar.
Encaminha partidas para evitar futuros que você não sobreviveria.
E aí vem o aprendizado difícil:
soltar não é desamor.
É respeito por si mesmo.
É fé em movimento.
É olhar para o céu e dizer: “Eu aceito.”
Aceito que a vida tem ciclos.
Que vínculos podem se encerrar, mesmo com afeto.
Que não é ausência de sentimento — é presença de propósito.
Quando Deus coloca um ponto final,
é sinal de que a próxima frase precisa começar com você mais leve.
Não insista em escrever continuações com letras que já se apagaram.
Não force vírgulas onde Ele já colocou ponto.
A pontuação divina é precisa — mesmo quando nos parece abrupta.
Tem vínculos que te ensinaram.
Outros te quebraram.
Alguns te empurraram para dentro de si.
E cada um deles deixou marca.
Mas nenhuma dessas marcas precisa definir quem você é.
Você não é a dor da ausência.
É a força da ressignificação.
Você não está perdendo.
Está sendo restaurado.
Deus não apaga histórias — Ele transforma capítulos.
Não é o fim da sua emoção.
É o início da sua consciência.
O amor continua,
mas com direção nova.
Você merece viver inteiro.
Sem esgotar suas forças em tentativas que não recebem retorno.
Sem comprometer sua paz por laços que já foram desfeitos pelo céu.
Sem mendigar presença onde só existe saudade.
Soltar é corajoso.
É espiritual.
É ato de fé.
É dizer: “Eu confio no que vem depois, mesmo que não saiba o que é.”
Porque com Deus, o depois é sempre melhor que o durante que te consome.
Então agora, respira.
Fecha os olhos.
Coloca o coração nas mãos dEle e diz:
“Se não é meu, me ensina a deixar ir.”
E deixe que Ele conduza.
Porque quando você solta o que não deve mais segurar,
abre espaço para o que realmente vai te sustentar.
*César