Ninguém nasce pronto para amar.


Não é da natureza humana surgir já com a capacidade plena de amar alguém de forma madura, consciente e recíproca. Amar é um caminho, não um ponto de partida. E quem parte à procura de alguém ideal — perfeito, equilibrado, emocionalmente curado, com todas as feridas já cicatrizadas — inicia o relacionamento carregando uma expectativa que o amor real não foi feito para suportar. Porque o amor verdadeiro não nasce entre seres prontos. Ele surge entre aqueles que estão dispostos. Dispostos a se ver com sinceridade, a enfrentar o desconforto do autoconhecimento, a desmontar as defesas que criaram para sobreviver, mas que hoje impedem a entrega.

Amar exige que dois corações se encontrem não em estado de perfeição, mas em estado de abertura. Pessoas que sabem que há rachaduras — algumas visíveis, outras escondidas nas dobras do ego — e mesmo assim se aproximam. Que entendem que muitos traumas antigos, ao invés de serem superados, foram transformados em traços de personalidade. Que reconhecem os padrões herdados, aquelas crenças silenciosas que sabotam vínculos, que impedem a vulnerabilidade, que alimentam o medo da rejeição. E que, apesar disso tudo, não fogem. Porque amar é permanecer.

Amar é se colocar no campo de batalha não contra o outro, mas com ele. É ser parceiro de luta, aliado de reconstrução, abrigo em tempos difíceis. É saber que o outro também sangra, também falha, também hesita — e mesmo assim, estender a mão, escolher estar, escolher lutar juntos.

Mas essa escolha exige uma coragem rara: a coragem de se responsabilizar por si mesmo. De deixar de ver o outro como muleta emocional. De parar de esperar que alguém venha te completar, te consertar, te salvar. Amar de verdade começa quando você entende que não é justo jogar sobre o outro o peso da sua própria incompletude. Que antes de querer construir algo a dois, é preciso estar em construção consigo mesmo. Que maturidade não é estar pronto — é estar disponível para crescer.

A pessoa certa não vai te prometer contos de fadas. Ela vai te oferecer presença, disposição, verdade. Vai errar e reconhecer. Vai cair e levantar ao seu lado. Vai encarar a realidade com você, mesmo quando ela não for bonita. Porque relacionamento é escultura. E escultura requer tempo, paciência, força e delicadeza. É o trabalho de moldar e ser moldado, de ceder e acolher, de cuidar e confiar.

É entender que o real nem sempre se parece com o sonho — e que tudo bem. Que às vezes o amor é silêncio, às vezes é caos, às vezes é dúvida. E que o desafio é continuar, mesmo nesses momentos.

Quem não se permite ser transformado, quem acredita que já nasceu pronto, termina endurecido demais para se conectar. E o amor não sobrevive na rigidez. Ele precisa de espaço, de flexibilidade, de movimento. Precisa de gente que escolhe ser melhor, não por obrigação, mas por afeto. Não por precisar do outro, mas por querer caminhar junto, aprender junto, crescer junto.

Por isso, pare de procurar alguém perfeito. Perfeição não existe. Procure alguém disposto. Disposto a se enxergar, a se desconstruir, a escutar com o coração aberto. Disposto a se revisar, a caminhar com humildade. E acima de tudo: seja esse alguém também.

Porque no fim das contas, amar é estar disposto a ser esculpido — e, com sorte, esculpir junto.
Não por carência, mas por escolha. Não por necessidade, mas por desejo de viver o que é verdadeiro.
E quando dois corações se encontram nesse mesmo movimento, o amor não apenas sobrevive: ele floresce...


*César

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