Deixamos o abraço para depois, o beijo para depois, sem saber que o depois pode não chegar para nós…

Deixamos aquele abraço para depois, o beijo de saudade pra amanhã, deixamos pra dizer o quanto estamos sentindo falta daquele alguém para outra hora, deixamos o almoço em família pra outro dia e decidimos não ligar para aquele alguém hoje – melhor deixar para amanhã.
Deixamos a saudade pra amanhã, o eu te amo, o pedido de desculpas, o perdão, a oração e a gratidão para depois. Esperando que o depois sempre virá. Afinal, estamos ocupados demais, preocupados com outras coisas e o hoje não nos oferta tempo. Deixamos para depois.
O problema é: quem nos garante que ele chegará? Quem pode afirmar que amanhã você terá como ligar e dizer: estou com saudade de você? Quem pode garantir que o “eu te amo” não ficará guardado, que o abraço, o beijo, o pedido de desculpas, o perdão não ficarão para trás?
Quantos “eu te amo” enterrados pelo medo, quantos pedidos de desculpas enterrados pelo orgulho, quantas falas de saudade enterradas pela falta de tempo? Quanto perdão deixado para amanhã, sem sequer se imaginar que o amanhã não chegaria? O tempo de amar é hoje, é agora. O tempo de perdoar é hoje, é agora.
Deixamos tudo para amanhã, na certeza de que o outro estará lá e de que nós estaremos aqui, sem saber que o amanhã pode não chegar para nós. O mais triste disso tudo é que nós nos sabotamos, deixando para sermos melhores amanhã, para reconhecermos que erramos quando falamos em um tom mais alto com alguém que amamos.
Eu me saboto quando sinto saudade e não digo, quanto amo e não demonstro, quando quero falar com Deus, mas deixo para depois. Quando acho bonito, mas não elogio; quando admiro, mas não falo; quando falho com alguém que amo e, por orgulho, não reconheço, ou quando deixo para depois perdoar as feridas dos outros em mim.
Quando deixo uma amizade acabar por bobeira ou fico alimentando mágoa por muito tempo, à espera de que, depois, um dia, ela se cure. Deixo, com isso, perderem-se os amigos, os amores, as oportunidades, e a possibilidade de ser melhor.
Deixo partir a saudade, como se ela não existisse; o “eu te amo”, como se o amor nunca morasse em mim, e faço do orgulho uma casa na qual eu me refugio. Não deixe para amanhã o amor que você pode oferecer hoje. Não deixe aquele “estou com saudade” engasgado, não deixe para perdoar depois.
Se soubéssemos o quanto o hoje é importante em nossas vidas, não viveríamos tanto em função do passado, pensando que o amanhã é quem pode curar nossas dores, pensando que o amanhã pode solucionar nossos problemas e que o hoje é apenas um dia de calar nossos sentimentos e dar voz ao nosso orgulho.


*Thamilly Rozendo

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