Histórias iguais, páginas diferentes

E aí está você: colecionando milhares de tentativas nessa vida.
Algumas com final feliz, outras nem tanto.
Ou melhor, algumas com final que gostaria, outras nem tanto.
A vida acontece como a gente precisa, raramente como a gente gostaria.

Você é aquela pessoa que se emociona com os filmes.
Aquela pessoa que ouve um refrão bonito e trata de mandar para os amigos: “Ouve isso que demais!”
Eventualmente você compartilha algumas frases bonitas; é o tipo de coisa que te inspira.
Você é uma pessoa normal, não tem nada de muito estranho não.
Como qualquer pessoa normal, você gosta de tirar muitas fotos.
Um dia do céu azul da manhã, outro das frases nos cartazes colados nos postes.

E muitas vezes, muitas mesmo, você se pergunta sobre como as coisas acontecem na sua vida. Se questiona sobre a velocidade com que as coisas boas demoram pra chegar e sobre como vão embora rápido. Um metrô ou ônibus qualquer são lugares perfeitos para estes pensamentos te acompanharem. Você gosta de pensar.
Quando a dúvida te afoga, você conversa por horas com alguém que tem sua confiança. E isso te faz bem. Isso te alivia.  “Meu, sério, preciso falar com alguém se não vou explodir!”

Mas também, pudera, nosso ponto de vista nunca é tão bom que não possa ser completado por outro.

Você raramente se contenta com as coisas.
E isso tem um lado bom e ruim.
O bom é que você sabe que sempre pode melhorar alguma coisa. Você entende que se teve um dia bom, pode ter um melhor ainda amanhã. Você se inunda com uma vontade de ser feliz que é honestamente contagiante. As pessoas percebem isso na forma que dá bom dia. Seus amigos percebem isso nas músicas que posta. Sua família posta isso na forma que cuida e organiza suas próprias coisas.

O lado ruim é que você custa a se convencer que algumas coisas são apenas coisas, assim mesmo, indefinidas, rasas e genéricas, portanto, coisas. E então você procura motivos que justifiquem e muitas das vezes você se torna a sua própria ameaça. Então você começa a se ver como a pior pessoa desse mundo. Você se acha uma pessoa feia, desinteressante, transforma seus defeitos em monstros que te impedem de viver, se afunda em pessimismo gratuito e fica lá enquanto durar.

E normalmente isso acontece quando entra alguém na sua vida, seja você querendo ou não, você estando num momento “quando eu mais precisei”, “quando eu menos esperava” ou não.

Nossa vida é um eterno livro branco onde escrevemos páginas novas todos os dias. Às vezes aparece alguém pra gente ler sobre o que já escrevemos e nos ajudar a escrever algo novo, mas da mesma forma que veio, esse alguém vai embora. Às vezes tentando rasgar o que já escrevemos, às vezes tentando rasgar o que nem escrevemos ainda. Mas o nosso livro continua lá, intacto. E por mais que o machuquem, o que as palavras querem dizer estão dentro da gente.
Isso quer dizer que tem gente que aparece na nossa vida pra somar. E aí essa soma acaba. Então esse alguém vai embora. Mas nós continuamos lá: vivendo todos os dias, pagando todas as contas, dando todas as risadas, postando todas as músicas, indo em todos os lugares, nós continuamos lá fazendo a nossa vida continuar.

Acontece que tem vezes que encontramos pessoas iguais a gente mas que estão em momentos diferentes da vida. Existe alguma novidade nisso? Isso é algo que você não sabia? Mas por quê fazer do inferno uma das mais repetitivas fases da vida? Vidas iguais, caminhos diferentes. Histórias iguais, páginas diferentes.

O problema é quando você não se conforma e praticamente se mata para querer entender o por quê de algumas coisas acontecerem. Liga para deus e o diabo atrás de alguma palavra que te faça pensar: “ah, então é por isso”, mas você nunca, entenda, NUNCA vai encontrar. É que o entendimento depende de pessoa para pessoa. As experiências podem ser compartilhadas mas são intransferíveis.

Somos pessoas iguais consumindo as mesmas vidas de jeitos diferentes em diferentes momentos.
É isso que justifica o fato daquele seu melhor beijo da vida ter sido só mais um beijo pra alguém. Então se pra você foi o auge conseguir se entregar e transar com aquele alguém, pra este alguém, por sua vez, você foi só mais um momento pra colecionar.
Se pra você foi incrível planejar, fazer convites e a pessoa aceitar, incluir a vida dela em todos os dias da sua, e então vê-la sumir jogando tudo e todos pro alto, pra esse alguém você pode ter sido só mais uma série de momentos legais pra viver.
Não tem que querer entender nada. Não tem que procurar resposta pra porra nenhuma. E se ao procurar e supostamente encontrar como vai poder usar? “Ah, pelo menos vou saber como lidar na próxima vez!” Não vai saber merda nenhuma. Você pode até bater o pé e se garantir como alguém que não repete erros, até aparecer a chance de errar de novo. Sem contar que amanhã pode ser você quem vai transar por transar com alguém que espera te ver de novo sem você saber.

Você nunca vai saber quando vai gostar, muito menos quando vai esquecer. Você só vai viver.

O problema não é com você.
E nem de ninguém, na verdade.
Você é só mais uma pessoa ansiosa em viver a parte boa da vida, mas que depois se questiona quando não saem como o esperado. Você é só mais uma entre 100% de todas as outras desse mundo que agem da mesma maneira. Você é normal. Sua vida não é pior por isso e as coisas não dão menos certos pra você. São pessoas diferentes em diferentes páginas da mesma vida.

É melhor deitar com a companhia da paz do que de qualquer pessoa.

E aí está você: colecionando milhares de tentativas nessa vida.
E que bela coleção já tem, não?
Você já tirou alguma foto do céu hoje? Alguma frase num cartaz no poste?
Não vale gastar vida procurando culpados, é melhor aproveitá-la estabelecendo privilegiados e se preparando para os escolhidos.

por Márcio Rodrigues.
umtravesseiroparadois@gmail.com

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