ENTRE ESCOLHAS E REJEIÇÕES

A alma da gente é joelho de criança. Esfolada, arranhada, meio sangrenta em algumas partes. Viver é um oscilar entre escolhas e rejeições.

Ser escolhido é o paraíso. Ser amado. Esse é o desejo maior. Ser o brilho do olhar do outro. Motivo de orgulho, de admiração. Saber que vai ser lembrado durante o dia. Todos os dias. Essa é a paz que a gente espera ter.

Ser rejeitado? A porta do inferno com direito a um diabo me espetando o rabo. A sensação de ser um lixo, de estar sendo jogado fora. Ser rejeitado não deveria querer dizer nada. Então por que te abala tanto?

Porque coloco minha autoestima nas mãos do outro sem perceber que é uma armadilha bem perigosa. Meu valor não pode estar na mão do outro. Ele é meu. Independente do que o outro possa achar.

O amor e o tesão têm questões absolutamente subjetivas. Coisas que não se explica. Apenas acontecem. Às vezes encaixa, às vezes, não. Só isso. Mas o orgulho ferido transforma essa questão num cavalo de batalha. Não deveria. Ser rejeitado é apenas não ser escolhido. Nem Jesus agradou todo mundo. Por que você agradaria?

Meu enorme amor pelo outro não me garante nada. Posso ser azul e ele gostar de vermelho. Posso ser sol e ele preferir apenas lua. Posso ser deliciosa pizza e ele ter alergia a glúten. Ferrou. Não vai rolar. O mundo não acaba por isso.

Ponha a mão na consciência e lembre quantas pessoas você também já dispensou. Quantas não te interessaram? Quantas você não quis porque eram só bonzinhos? A gente rejeita também.

Vingança? Besteira. Ser rejeitada magoa, mas não é um ataque pessoal. Tem gente que dá liga, tem gente que não. Não é defeito da gente, nem do outro. É encaixe. Só isso.

Rejeições acontecem o tempo todo. Com amigos, na família, na escola, nos empregos, nas relações amorosas. Queria ser A mais importante. No entanto nem sempre sou prioridade. Nem sempre o promovido. Nem sempre chamado. Nem sempre lembrado.

A necessidade de ser aceito, às vezes joga a gente numa armadilha mofada. Na tentativa de ser O mais importante, é comum a gente acabar infernizando a vida do outro. Cobrindo de exigências absurdas. Cenas de ciúmes. Que só colocam o outro em fuga. E a gente de volta à solidão.

A rejeição dói na alma. A dor é real e intensa. Ela é ainda mais difícil de encarar quando a pessoa já trás suas feridas antigas de infância. Esses traumas infantis dão cores muito intensas à rejeição atual. Transformando em furacão o que era só um ventinho.

As pessoas que sofrem com esses abandonos antigos são as que acabam se colocando em situações de grandes abandonos atuais. Escolhem com base nas figuras ruins do passado. Tentando refazer mais uma vez o que nunca deu certo. Nem vai dar, já que o tipo de personagem escolhido continua o mesmo.

Escolhem abandonadores, abusadores. Não conseguem colocar limites. Se humilham sem necessidade. Por que? Você que está de fora se pergunta. Porque ela ainda se vê criancinha tentando ser amada. Sem conseguir.

Não perca a vida chorando rejeições passadas. O nome disso é desperdício. Foi rejeitado? Chore, se tiver vontade. Procure os amigos. Desabafe. Peça colo. Reavalie o que aconteceu. Você, de alguma forma, colaborou para isso? Provocou a rejeição? Escolheu mal? Ou só não rolou?

Pense para evitar cair no mesmo erro de novo. Pensar não é ruminar mágoas mofadas. Fique atenta. Depois se ajeite bem linda e ponha a fila para andar. É vida que segue.

*Por: Mônica Raouf El Bayeh

Mônica é carioca, professora e psicóloga clínica. Especialista em atendimento a crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias.

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