Recolha a sua dignidade e vá embora!

Diante de qualquer circunstância, lugar ou pessoa, pergunte-se sempre: vale a pena? Se não puder ser você mesmo – ou se está lhe fazendo mais mal do que bem – recolha a sua dignidade. E vá embora.
No fim das contas, tudo se resume a uma pergunta: vale a pena? É incrível como, no apressar do dia a dia, entre tantos compromissos “inadiáveis” e coisas que realmente gostaríamos de ter feito, mas que não fizemos, porque “não deu tempo”, “já era tarde demais”, “era muito pra gente”, “deu medo mesmo”, “o que os outros iriam pensar?”, vamos nos esquecendo dos porquês e dos sentidos das nossas próprias escolhas, das nossas próprias renúncias, das nossas buscas, dos nossos caminhos, de cada sim e de cada não que às vezes dizemos tão inconsequentemente por aí, como se não representassem nada, não significassem nada, não mudassem nada de coisa alguma. Vale a pena?
Às vezes, eu me pergunto o que temos feito com o nosso tempo, com os nossos silêncios, com o nosso direito de simplesmente deixar ir, de verbalizar sentimentos, de se recolher quando necessário, de fazer uma pausa quando o corpo e a mente pedirem, de não tolerar o que quer que seja que esteja roubando da gente o brilho nos olhos, a consciência tranquila, a paz de espírito, o ser quem a gente é.
Às vezes, eu me pergunto o que temos feito por detrás de todos esses ângulos favoráveis e filtros de edição de imagem que mais nos aprisionam do que nos libertam.
De sorrisos que muitas vezes não estão sorrindo de fato, de palavras que muitas vezes a gente não diz por medo de magoar ou de ferir alguém, mas que acabam nos sufocando. De tantos textões e frases de impacto que a gente posta, reposta, marca, divulga, mas não pratica. Vale a pena?
Às vezes, eu me pergunto o que temos feito com o que fizeram da gente. E com tudo aquilo que, mesmo inconscientemente, nós permitimos que fosse feito do jeito que é, seja por negligência, por preguiça, por comodismo, por despeito, por orgulho, por medo, por ansiedade ou por pura falta de sabermos por onde começarmos mesmo.
E, então, a pergunta que sempre me vem à cabeça diante de tantas versões de nós mesmos que, volta e meia, forjamos por aí – muitas vezes numa tentativa doída de sermos aceitos, amados, respeitados, admirados, invejados e queridos por gente que de repente a gente nem sabe quem é – é esta: vale a pena?
Será que alguém realmente nos vê? Será que nós mesmos estamos conseguindo nos enxergar?
Será que é de fato possível conhecermos e (re)conhecermos a essência de alguém mesmo diante de tantas camadas? Será que é possível conhecermos e (re)conhecermos a nossa própria essência?
Será que vale a dor de cabeça, o fio de cabelo branco, a ruga de preocupação, as compulsões, os vícios, as lágrimas, as feridas, as dívidas, as noites mal dormidas, o sapo engolido, a palavra engasgada, o sacrifício?
Porque a vida não precisa ter esse peso todo que a gente atribui a ela, sabe? Há coisas que nos escapam completamente e que não valem nem um décimo do tempo que a gente investe, da energia que a gente gasta, do valor que a gente dá.
Diante de qualquer circunstância, lugar ou pessoa, pergunte-se sempre: vale a pena?
Se não puder ser você mesmo – ou se está lhe fazendo mais mal do que bem – recolha a sua dignidade. E vá embora.


*Ana Paula Ramos

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