TOTALMENTE DISPENSÁVEIS

O medo de perder é o medo de nos tornarmos dispensáveis
para a pessoa com a qual estamos nos relacionando, ele se reveste de mil e uma
formas, aparece sobre mil disfarces, como o medo de sermos criticados, que falem
mal de nós, medo de que nos humilhem, de sermos rejeitados, de não sermos
importantes, de sermos menos prezados, de não sermos amados, medo da solidão, e
tudo isso pode ser designado por uma palavra: C I Ú M E S!
O ciúme é o medo de não ter alguém, de não possuir alguém,
de não ser dono de alguém. Na relação ciumenta colocamos: nós e o outro como
objetos, nesta relação pessoas e objetos são a mesma coisa. No ciúme temos medo
de um dia sermos considerados inúteis, dispensáveis a outra pessoa, esta é a
emoção do apelo, confusa, misturada, dependente. O agravante nisso tudo é que,
na nossa cultura aprendemos que o ciúmes vem do amor, e ele é justamente o
oposto do amor pois na relação amorosa existe identidade, eu sou
independentemente de você, na relação ciumenta, por outro lado, perde-se a
identidade: eu sem você não valho nada, você é tudo para mim.
O amor é solto, é livre, vem de querência intima, está
diretamente ligada ao sentimento de liberdade, de opção, de escolha. No ciúme há
um pacto de destruição mútua, cada qual, usa o outro como garantia de que não
estará sozinho. Eu me abandono para que o outro não me abandone, eu me desprezo
para que o outro não me despreze, eu me desrespeito para que o outro não me
desrespeite, eu acabo me destruindo para que o outro não me destrua.
O ciúme é o medo de ser dispensável a alguém, e o mais
grave talvez esteja aqui, nós passamos a vida inteira com medo de tornarmos algo
que nós já somos: TOTALMENTE DISPENSÁVEIS!
O homem por definição é dispensável, transitório, efêmero,
aquilo que passa, e isso é bastante real. Em todas as relações que temos somos
hoje, somos substituíveis! O mundo sempre existiu antes de nós, está existindo
conosco e continuará existindo sem nós. Somos necessários aqui e agora, mas
seremos dispensáveis além e depois.
O medo de ser dispensável a alguém é o mesmo medo que temos
da morte, que é real, pois o medo da morte é o ciúme da vida, é a vontade irreal
de sermos eternos e imutáveis. O medo de perder nos dá a entender que as coisas
só valem se forem eternas, se forem permanentes e duráveis. Uma relação só tem
valor se tivermos garantia de que a vida sempre será assim como é. E, como tudo
é transitório, como tudo é passível de transformação, o medo de perder nos leva
a um estado contínuo de sofrimento.
Além disso, a perda faz parte, a queda faz parte, a morte
faz parte, é impossível viver satisfatoriamente se não aceitamos a queda, a
perda, a morte o erro, precisamos aprender a perder, a cair, a errar e a morrer.
Não é possível saber ganhar sem saber perder, não é possível saber andar sem
saber cair, não é possível viver sem saber morrer!
Em outras palavras, se temos medo de cair, andar será muito
doloroso; se temos medo de morrer, a vida será muito ruim; se temos medo de
perder, o ganho nos enche de preocupação!!!
Esta é a figura do fracasso dentro do sucesso, pois quanto
mais ganha, quanto mais melhora na vida, mais sofre. Para a pessoa que tem medo
de ficar pobre quanto mais dinheiro obtém mais preocupado fica. Para a pessoa
que tem medo do fracasso, quanto mais sobe na escala social, mais desgraçada é a
sua vida.
Agora, se você aprende a perder, a cair, a errar e a
morrer, ninguém o controla mais, pois o máximo que pode acontecer a você é cair,
é perder, é errar, é morrer e isso você já sabe!!
(Texto retirado da fita Rosa Cruz - Desenvolvimento
Comportamental)
(Antonio Roberto Soares)