Uma nova chance

Quase sempre admitem que gostariam que suas prioridades tivessem sido diferentes.
Elas sentem que poderiam ter utilizado mais tempo com as pessoas e com as atividades que realmente amavam, e menos tempo se preocupando com aspectos da vida que, se examinados mais profundamente, não têm real importância.
Outras, ainda, percebem que se afastaram de seus amores e de seus ideais de forma lenta, porém, quase irremediável.
Mas será necessário esperar uma situação extrema para analisar a postura diante da vida e da utilização do tempo?
Embora saibamos que a morte é uma transformação e que continuaremos a viver, mesmo depois da falência de nosso corpo físico, vale a pena fazer a experiência sugerida por Richard Carlson, autor do livro Não faça tempestade em copo d'água.
Ele sugere: Imaginemo-nos em nosso próprio funeral.
Isso, segundo o autor, permitirá que consigamos olhar em retrospectiva a vida, enquanto temos oportunidades de fazer mudanças expressivas.
Além disso, tal exercício seria capaz de conceder-nos a chance de lembrar que tipo de pessoa gostaríamos de ser e quais as prioridades que realmente contam.
A respeito desse tema vale a pena lembrar a postura de Francisco de Assis.
Pouco tempo antes de sua desencarnação, Francisco, já muito doente e enfraquecido, trabalhava tranquilamente em seu jardim, quando foi interrompido por Frei Leão, um dos seus seguidores.
Frei Leão, embevecido com a figura serena do pequeno Francisco, perguntou-lhe: Paizinho - como costumeiramente o chamava - se você soubesse que iria morrer amanhã, o que você faria?
Francisco sorriu docemente e respondeu sem alterar-se: Eu continuaria a trabalhar no meu jardim.
Quantos de nós teríamos a mesma tranquilidade perante tal indagação?
Quantos teríamos, diante da certeza da morte próxima, a confiança de que estamos realmente fazendo aquilo que nos compete fazer e que nada foi relegado, abandonado, esquecido?
Francisco sabia que sua conduta não merecia reparos e que não havia nada mais, além do que ele já estava fazendo, que devesse ser realizado.
Ele demonstrou estar pleno da paz que invade apenas aqueles que têm a consciência tranquila pelo dever cumprido.
Essa análise, porém, só pode ser feita por cada um de nós, a quem compete, individualmente, saber a que viemos e se estamos atendendo e cumprindo as metas que norteiam a nossa atual existência.
Ninguém pode nos dizer o que fazer ou deixar de fazer, como, quando, e de que forma.
Trata-se de escolhas individuais, cuja responsabilidade cabe a cada um de nós de maneira direta e intransferível.
Deixar para fazer esse balanço apenas quando a desencarnação se mostra próxima e inevitável é desperdiçar as oportunidades de renovação que Deus nos oferece a cada minuto.
Além disso, independentemente da nossa atual situação, não nos é dado saber se ao amanhecer do próximo dia ainda estaremos no corpo físico.
Deus jamais desistirá de nós, mas isso não é justificativa para que protelemos por milênios a felicidade que nos é destinada desde sempre.
Pense nisso, mas pense agora.