OS OPOSTOS SE ATRAEM? SERÁ?

Tem casal que parece irmão. Eles têm a mesma cara. O mesmo jeito. O mesmo tipo. O mesmo estilo de vestir. Sempre que encontro casais assim, me pergunto se já eram ou se ficaram. Será uma escolha inconsciente pelo igual? Uma busca pelo irmão perdido? Ou uma espécie de estranha mutação conjugal?

Os iguais, imagino, se dão bem. Não há porque discordar do que é só mais um outro você. Vivem tranquilos. Geralmente reproduzindo pequenos seres também iguaizinhos. Andam todos juntinhos. Lindos.

Se fossem frutas seriam um cesto só de laranjas. Só de limões. Ou uma linda caixa de uvas. Gosto dos iguais. Mas me encantam os diferentes. Aqueles que você para e diz:

- Como assim?

Os diferentes. Ah, são saladas de frutas. São sabores os mais inesperados. Esses têm toda a minha atenção.

Ele é capricórnio. Ela, ascendente em sagitário. Ele quer que lhe deixem em paz. Em casa. Ela quer ganhar o mundo. De preferência sem malas. Só a mochilinha nas costas.

Ele gosta de mapas. E manuais. Ela prefere o risco. As tentativas. Ele gosta de comida pelando. Ela prefere crua. Ele, calado. Ela não cala a boca. Ele sério. Ela gargalha alto. Ele é tímido. Ela teatral.

Ele tem medo do que os outros podem falar. Ela quer mais é que os outros se danem. E faz o que dá na telha. Conseguem viver juntos sem se matar? Diria que sim.

O que estraga um amor não são as diferenças. Pense em outro você. Um clone. Uma coisa igualzinha, só que do sexo oposto. Ou do mesmo, se for sua preferência. Os mesmos defeitos. As mesmas manias. A mesma carência. Você suportava? Eu não. Cruzes.

Outra de mim? Eu não me pegava nem pagando. Nem podendo. Uma eu já quase nem aturo. Imagine em dose dupla? Nem de porre.

Os opostos se espetam, é verdade. Mas se completam justo no que falta. Se encaixam entre qualidades e defeitos. Um é pleno do que no outro é falta. Essa é a graça da coisa. A diferença.

Ele tem o que eu não consigo. Ele sabe o que eu não entendo. Sou dependente? Nunca. Eu sou justo o que ele não é. Sou forte onde ele é bem fraco. Mas é bom que ele seja melhor do que eu no que eu não dou conta. Essa é a suavidade da situação.

Sei que sou boa em outras coisas. Para que ficar nessa competição? Precisamos um do outro. Esse é o segredo. O sabor de estar junto.

Diferente não é defeito. É uma forma outra de ser. Nova. Gostosa. Pronta a ser desbravada. Descoberta. Lidar com o diferente. Essa é a grande aventura.

Não somos jogo da memória. Não nos encaixamos em peças iguais. Somos quebra cabeça. O outro entra nas minhas faltas. Completa meus vazios. Juntos nos recheamos. Sou bolo, ele cobertura. É um bolo com mais sabor.

Ele é chato? Sou também. Ele tem defeitos? E quem não tem? Perfeitos ainda não foram inventados. Se busco a perfeição, me sobra ficar sozinha. Conviver é aceitar falhas e resmungos. Aturar dias de mau humor. Derrotas e erros. Decepções. Tentativas que não vingam. E continuar do lado, se achar que vale a pena.

De prêmio? Um ombro amigo quando a vida espetar. Um colo para momentos de carência. Um cobertor de ouvido para os dias de frio. E os de calor também. Uma mão ali esperando a sua.

Os opostos se atraem. Se completam. Se esfolam, é verdade. Mas se recriam. As diferenças colorem. Dão sabor. Dão tempero. Aceitar o que antes era estranho pode ser uma boa vivência. Por que não?

Amores são feitos de material imprevisível. De escolhas impensáveis. De misturas bem esquisitas. E daí? Se é amor está bom assim. Deixe que corra livre. Que busque seu curso. Que anime os caminhos. O que vão dizer? Sei lá. Não me interessa. Quero mais é ser feliz.

Se é quem me serve? Se é quem me agrada? Por quem meus olhinhos brilham felizes? Vou correr atrás sem medos e sem reservas. Tesão é escolhido de dentro para fora. Não há quem mande. Não há quem desvie. Bateu? É aquele mesmo. Não tem cor. Não tem credo. Não tem status social. Nem sexo. Nem nada. É ali que vou amarrar meu burro. E mandar ver.

Amor é igual. Não tem regra. Nem lei. Nem ordem ou determinação qualquer. Amor não se prende em gaiola. Não se amarra, nem se trás de volta em três dias. Amor bom fica. Para sempre. Nem que seja por dentro, bordado na vida da gente.

Lembrando que se foi bom uma vez, é bom que aconteça de novo. Da forma que der. Com quem valer a pena. Porque se for amor, vale a pena.



Por: Mônica Raouf El Bayeh em 28/01/18 07:00   

Mônica é carioca, professora e psicóloga clínica. Especialista em atendimento a crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias.

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