Às vezes, precisamos acolher; em outras, ser acolhidos…
Quando o chão some de nossos pés e nos vemos desabando em um abismo profundo, temos que deixar de lado o orgulho e gritar por socorro.
Quando estamos atravessando uma fase difícil, nem sempre é fácil olhar o lado bom da vida. É comum não conseguirmos tirar o foco do problema, tornando mais difícil encontrar soluções. Isso aumenta nossa agonia e como em um círculo vicioso, ficamos rodando e nutrindo o sofrimento.
Sim, sabemos que ficar tristes não resolve, mas complica, sabemos que preocupação reforça a angústia, mas nem sempre conseguimos modificar isso sozinhos; às vezes, é demais, é algo além da nossa capacidade de suportar e como não somos uma ilha e nem vivemos nela, esta é a hora em que necessitamos contar com apoio de amigos e pessoas próximas, sobretudo daqueles que mais amamos.
Quando o chão some de nossos pés e nos vemos desabando em um abismo profundo, temos que deixar de lado o orgulho e gritar por socorro.
Aqueles que realmente se importam virão em nosso auxílio, para nos ajudar a nos resgatar, ou ao menos nos ajudarão a suportar a fase em que teremos que ficar ali, pendurados sobre o abismo.
É para isso que existem os relacionamentos, os vínculos afetivos, a comunhão das famílias.
O inverso pode e também acontece, de precisarem de nosso auxílio em tempos difíceis. E podemos ajudar com uma conversa reconfortante, uma palavra animadora, a própria presença, demonstrando que estamos juntos, que o outro não precisa se sentir só
Apoiar é muito mais que ajudar, sobretudo é acolher, oferecer refúgio, proteção, saber ouvir, saber o que dizer; e se não souber, não dizer nada; apenas estender os braços e oferecer um abraço protetor com o carinho que sua fragilidade está pedindo.
Quando estamos vulneráveis, necessitamos saber que não somos sós, que alguém se importa conosco e que deseja estar ao nosso lado naquele momento sofrido.
Necessitamos de todo otimismo que o outro nos possa oferecer para ver o lado bom das coisas e que demonstre interesse por nós, respeito pelo nosso problema, que nos envolva com o verdadeiro sentimento de solidariedade, que demonstre e nos faça sentir que é verdadeira a sua vontade de nos apoiar.
Quando estamos esmorecidos, precisamos vitalmente acreditar que tudo há de se resolver do modo mais positivo! Sem dúvida, isso poderá amenizar o sofrimento e aumentar a confiança.
Sorrir para o outro, até mesmo na voz ao telefone, pois um ar grave e cerimonioso só aumentará o peso do denso sentimento que a pessoa está suportando.
É necessário perceber o que outro quer, evitar contato com o que o incomoda e causa dor, mas, se for necessário tocar nessa ferida, tem que ser com muito cuidado, carinho e afeto, pois essa não é a hora de dizer verdades duras de forma direta, pois o outro está ferido e não suportará a dor do que tem consciência, mas que não tem condições de, naquele momento, manter contato direto com a questão.
Às vezes, por falta de tato, por falta de jeito, por não saber o que dizer ou fazer, em vez de ajudar, terminamos por aumentar a preocupação do outro, não aliviamos em nada a sua dor e ainda acabamos trazendo-lhes à tona coisas como culpa, preocupação, piorando a situação, afastando a pessoa de nós, pois naquele momento necessita de acolhimento, cuidado, afeto e não ser chamada à atenção, receber broncas ou lições de moral. Se tiver que ser feito que seja em outro momento, e com muito cuidado.
Na verdade, tudo se resume à capacidade de sermos acolhedores em algumas situações e se permitir ser acolhido em outras.
Acolhimento tem a ver com empatia e o afeto que vem desse ato pode mudar momentos difíceis e torná-los mais amenos e suportáveis.
Afeto verdadeiro tem um enorme poder, um poder de acalmar, de confortar e até mesmo o poder de curar, ou pelo menos ser parte de uma cura.
Assim, apoiar é estar ao lado, mostrar-se presente; acolher é apoiar com afeto, compreendendo a dor do outro, tratando-o com a delicadeza e cuidado que requer suas feridas, agindo como um bálsamo que traga alívio e conforto.
*Helena Fernandes
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