Às vezes, é preciso retirar algumas coisas da gaveta, da vida, do coração e colocar porta afora


Por vezes, andamos de muletas, andamos aos trancos e solavancos, disfarçamos e fazemos de conta que está tudo bem.


Às vezes, é preciso retirar algumas coisas da gaveta, do armário, da vida, do coração e colocar porta afora. Paro o novo entrar, é preciso acionar o gatilho da sanidade mental, da paz espiritual, do equilíbrio que, por vezes, enverga, mas não quebra. É preciso querer para poder viver, para recomeçar sem tanto leva e traz.


A vida é um jogo de cintura, alguns pontos de ruptura, alguns ajustes se fazem necessários quando estamos à beira da ruína emocional, do desgaste sentimental, do cansaço da alma e do corpo físico.


Não adianta deixar a louça empilhada, a sujeira espalhada e se acumulando em tempo integral.


Não adianta tapar o sol com a peneira ou ficar à espera de um milagre, sem que se mexa um dedo, sem que se tome uma decisão, sem que a gente se imponha para o que realmente é importante.


Pode ser que copos caiam, pratos se quebrem, que de repente aquele canto mais sujo ainda precise de mais cuidado e atenção.


Às vezes, é necessário sair vasculhando os cômodos para ver se algo ficou esquecido, se o telhado precisa de conserto, se a pintura desgastou, se aquela lâmpada enroscada na luminária precisa voltar a acender.


Às vezes, o estresse violento, os traumas que carregamos, o medo de colocar os pés para fora para não sentir falta de ar, para não sentir tontura, para não sentir nada além do que o próprio receio de tocar a vida para a frente, parece camuflar aquele monte de entulho esquecido em algum lugar.


Por vezes, andamos de muletas, andamos aos trancos e solavancos, disfarçamos e fazemos de conta que está tudo bem.


O que nos salva e nos orienta, o que nos traz para perto da nossa essência e caminho de vida é a luz que não teme a escuridão, é a luz que reserva em nós o combustível para reacender, reaprender, renascer e resolver os conflitos que dançam e, muitas vezes, pisoteiam nosso espaço interno.


Às vezes, somos afrontados por nossos fantasmas, somos isolados de nós mesmos por conta dos muros que criamos, pelas coisas imaginárias que não aconteceram, pelos pensamentos negativos, pela mania de achar que não vai dar certo.


Se não tentamos, não sabemos; se não sabemos, não aprendemos.


Parece difícil, por vezes, extenuante, por vezes conflituoso. Ninguém disse que viver seria tarefa fácil.


Às vezes, agimos como crianças perdidas; às vezes, somos verdadeiros leões rugindo alto, afrontando. Às vezes, entre um dia e outro, nem nos lembramos de quem somos.


Sejamos pontes de amor e fraternidade, para que, lá na frente, outros corações receptivos também nos encontrem.


*Sil Guidorizzi


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