Castelos de Vidro


História 1: 

A família sai da metrópole pra passar férias no campo. Depois de meses planejando o almejado descanso, a fuga para as montanhas, a paz, o silêncio… chegam ao local e sentem falta do tumulto. Querem barulho, multidão, anseiam pelo stress. Tão acostumados ao caos, não conseguem relaxar, desfrutar os momentos, aproveitar a paz. Não conseguem sentir alegria de estarem juntos, não curtem a vida sem movimento e barulho.


História 2: 

Era uma vez uma família que vivia na pobreza extrema, no lixão. Apesar de toda provação, uma das filhas cresce, consegue estudar e melhorar de vida. Torna-se jornalista e escritora famosa. Traz a família para perto de si, oferece moradia, dignidade, esperança. Porém, passado algum tempo, os pais voltam para o lixão, para a vida ruim que talvez os defina mais.


História 3: 

Há muito tempo atrás, num reino distante, vivia um menino pobre que sonhava ser rei. Assim, dedicou sua vida a trabalhar e acumular riquezas. Batalhou, estudou, cresceu. Tornou-se um homem riquíssimo e construiu um castelo de vidro. No fundo, sabia que esse castelo estava sujeito a quebrar-se; mas no fundo mesmo, era isso que desejava. Então o rei conheceu a mulher mais bonita do reino e casou-se com ela. Tiveram cinco filhos: bonitos, saudáveis, bondosos. Porém, o homem não estava feliz. Vivia inquieto com suas posses, insatisfeito com seus filhos, coberto de ciúmes pela esposa. Dentro do castelo, tudo era feito de vidro também _ para que seus filhos não tocassem em seus bens, e assim conhecessem a dureza da vida como ele conheceu. Então os filhos não cresciam; e ele se isolava cada vez mais. Um dia, o homem resolveu quebrar tudo. Com um martelo, quebrou o castelo, os bens, despediu os filhos e a esposa. Por não suportar as próprias conquistas, a própria felicidade, o homem abriu mão dela. E voltou a ser pobre e sozinho.


Com essas três historinhas, (a primeira e terceira são fictícias; a segunda é verdadeira e foi relatada no livro “O castelo de vidro”, de Jeannette Walls) quis dizer que tem gente que desdenha a vida que Deus lhe deu. Gente que constrói castelos de vidro, ou mesmo de areia, torcendo para que sejam destruídos, porque não têm certeza da felicidade que estão construindo. Como se só a infelicidade fosse certa _ e segura.


A gente se apega ao que é conhecido. E muitas vezes o que é conhecido é ser infeliz. E pra se sentir seguro, brinca de imperfeição.


Queremos muito algo ou alguém, conseguimos e depois jogamos fora sem maiores explicações. Disfarçamos emoções, fingimos descaso quando na realidade transbordamos felicidade, ficamos sem graça com elogios sinceros. Negamos afeto, extravasamos mesquinharias, debochamos da própria realização, negamos a nós mesmos o direito de conhecer a beleza, o amor, a cura, a paz. Perpetuamos o sofrimento que passou, apegando-nos a traumas e lembranças ruins.


Economizamos a roupa de cama nova pra não gastar, só usamos a louça que ganhamos no casamento quando vem visita, nos enfeitamos menos pra não chamar atenção.


Incomodamo-nos com a alegria alheia, competimos silenciosamente com os mais chegados, negamos ajuda a quem ameaça nosso poder.


Tem gente que constrói castelos por fora mas não os faz por dentro. Gente que boicota a própria felicidade. Não reconhece essa dona estranha que cruza seu caminho e por isso desdenha a própria sorte. Não aceita a alegria plena e recusa o que de bom lhe acontece. Se culpa pelas bençãos e se desculpa pelas vitórias.


Infelizmente o mundo está cheio disso. De pessoas felizes que agem como infelizes. De gente abençoada que faz tudo pra estragar suas riquezas: com egoísmo, mesquinharia, amargura, inveja, avareza. E se priva de ter uma vida plena.

É avarento consigo mesmo. Vive de esmolas quando poderia desfrutar sua fortuna. Humilha a si mesmo e aos seus quando poderia regozijar-se de ter chegado lá. Lá… onde almejou. Lá… onde sonhou estar. Lá… onde Deus o abençoou com tudo que poderia querer. A pessoa chega Lá… e decide que é infeliz. Decide que felicidade não é isso. Decide que precisa quebrar o castelo ou trancar as portas bem forte pra dona estranha não entrar. E talvez esteja mais seguro ali mesmo, mas pode ser que perceba tarde demais que “era feliz e não sabia”…


*Fabíola Simões


“Tão fácil perceber que a sorte escolheu você e você cego nem nota…” [Skank]

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