Às vezes, parece que tudo se volta contra você?
Certamente,você sabe que muita gente estragou
parte de sua vida e perdeu oportunidades brilhantes por falar demais. Poderia
ter sido diferente… mas, quem revela os seus planos a qualquer um corre o risco
de ser passado para trás. Quem revela seus sonhos a um inimigo acaba por ser
humilhado. Um aproveitador não hesitará em usar o que você disse contra você
mesmo.
Por isso, os anos ensinam que há uma sabedoria escondida no silêncio – as
grandes mulheres e os grandes homens da humanidade sabem disso. Se você
guardar silêncio, será tomado por sábio, já dizia o velho Jó (cf.
Jó 13,5).
Existem situações em que a coisa mais
inteligente a fazer é calar e esperar. Contudo, para alguns, isso é difícil e,
para outros, impossível. Conheço pessoas boas que acreditam não
haver mal algum em falar demais, em abrir o seu coração para todos e expor seus
pensamentos a qualquer criatura que cruze o seu caminho. Pensam inclusive que
isso é uma das boas qualidades que têm, e dizem com certo orgulho: “É… eu sou
assim mesmo. Sou um livro aberto. Falo o que penso doa a quem doer”.
E a coisa
vai muito bem até que começam a experimentar as conseqüências… No
exato momento em que a situação vira e tudo começa a dar errado vem a tentação
de gritar: “Parece que tudo está contra mim”, “Nada do que faço dá certo” ou
ainda “Onde é que está Deus?”. O medo, então, não
perde tempo e bate à porta com sua habilidosa capacidade de convencer que tudo
está contra nós e que já não existe saída – como um vampiro vai sugando as
poucas forças que ainda temos.
A questão é que muito
mal seria evitado se houvesse um pouco mais de cuidado no falar – cuidado em não
colocar, em mãos adversárias, armas (conhecimento e palavras) que serão usadas
contra nós. É não sair falando ao vento de tudo o que se passa no nosso íntimo.
Em minha casa, a gente sempre ouvia que “prudência e caldo de galinha não fazem
mal a ninguém”.
Ser prudente é ter pudor
não só com o corpo, mas também com a alma. A pessoa que tem pudor sexual sabe
que seu corpo é sagrado e por isso secreto. Quem não pensa no que fala deixa
exposto não o corpo, mas a própria alma toda nua. Não sabe guardar em segredo o
que é sagrado. E se não guarda o próprio segredo, quem garante que vai guardar o
dos outros? “Quem despreza seu próximo demonstra falta de senso; o homem sábio
guarda silêncio” (Pr 11,12).
As pessoas
mais interessantes, as mais charmosas, trazem um “quê” de mistério. Mesmo quando
se mostram não deixam ninguém invadir sua alma. Só aos poucos, amparadas por um
silêncio zeloso, é que se dão a conhecer.Nesse mundo do
“fica-fica”, a gente precisa aprender de novo a arte de se aproximar, de fazer
amizade, de ser romântico e namorar… sobretudo, é preciso aprender a namorar
“bonito”, a escolher as palavras, a não se declarar de imediato, a não
vulgarizar o que temos de mais belo: nós mesmos.
A pessoa prudente evita
tantos sofrimentos! Pode não escapar de todos os males, mas dribla uma boa parte
deles. É que a prudência é a sabedoria que revela os erros e os perigos, ao
mesmo tempo, é a força que permite evitá-los. E, veja bem: É no silêncio
prudente que a sabedoria muitas vezes se esconde.
As pessoas fogem de quem
fala demais, mas se aproximam dos que têm sabedoria. Se você quer a atenção e o
carinho das pessoas faça como Deus: saiba o momento certo de calar e de falar.
Nem mesmo diante da morte Jesus joga palavras fora: “Entrou novamente no
pretório e perguntou a Jesus: De onde és tu? Mas Jesus não
lhe respondeu” (Jo 19, 9). Jesus sabia que há momentos em que a melhor
defesa é o silêncio, pois até o inocente parece culpado quando fica se
justificando – os nossos amigos não precisam de nossas justificativas para
acreditar em nós e os nossos inimigos não irão aceitá-las por melhores que
sejam.
Contudo, a melhor coisa de
quando nos silenciamos é que podemos escutar a Deus e receber a sua graça: “Ouve
em silêncio, e tua modéstia provocará a benevolência (Eclo 32,
9)”. Só quem contempla no silêncio do coração pode
perceber onde reside a felicidade.
*por Marcio
Mendes