Jóias que brilham

Basta que se observe, em qualquer lugar, como as pessoas bem vestidas e de porte altivo são tratadas, em detrimento daquelas mais modestas, de roupas mais simples.
Se andamos pela rua e alguém bem apessoado se aproxima, jamais cogitamos que ele possa ser um ladrão.
A reação é instintiva. Ficamos de sobreaviso. Colocamos a mão na bolsa ou na carteira, como querendo protegê-la.
Tudo isso ocorre porque estamos acostumados a avaliar as pessoas pela aparência.
Em épocas recuadas, no tempo em que no Oriente eram abundantes os sultões, princesas e escravos, vivia uma rainha muito rica.
Ela gostava de passear pelas ruas da cidade, todas as tardes, com sua escrava. Percorria os pontos mais movimentados de Bagdá chamando a atenção com o vistoso colar que usava sempre.
Era uma joia rara e preciosa de nada menos de duzentas e cincoenta e seis enormes e perfeitas pérolas.
Interessante é que, ao seu lado, a escrava usava um enfeite idêntico ao da soberana.
Todos admiravam as joias da rainha e diziam:
É claro que o colar da escrava é falso. Quem não percebe logo? A rainha assim procede para dar maior realce ao seu colar. Observem como as gemas verdadeiras têm mais brilho. Parecem ter luz própria, ter vida!
E tornavam a olhar, a admirar e invejar as joias da rainha.
Os comentários eram tantos que o Vizir começou a se preocupar. Salteador ousado poderia se aventurar, em algum momento, e roubar a valiosa prenda.
Por isso, compareceu frente à sua soberana e falou:
Majestade, perdoai se ouso vir vos falar. Preocupa-me a vossa segurança e da joia. É um perigo sair à rua com tão grande riqueza. Sua vida corre riscos.
A rainha sorriu e o sossegou, explicando:
Não se preocupe, bom homem. Toda vez que saio, troco o colar com o da minha escrava. Ela leva em seu pescoço o verdadeiro e eu, o falso. Estranhamente, é sempre o meu que é admirado.
Acredite, se eu saísse com simples vidrilhos, pedras falsas, todos continuariam a admirar o meu adorno. Isto somente porque eu sou a rainha.
As aparências enganam e devemos nos habituar a valorizar as pessoas por sua condição interior.
Afinal, temos valor por nós mesmos, pelo nosso proceder e não pelas posses materiais.
Na balança Divina, são iguais todos os homens. Só as virtudes os distinguem aos olhos de Deus.
São da mesma essência todos os Espíritos e formados de igual massa todos os corpos.
Os verdadeiros títulos de nobreza são as virtudes. Tudo o mais em nada contribui para a verdadeira felicidade.