Padre Fábio de Melo

Eu me lembro que uma semana antes de minha irmã morrer, ela havia me ligado. Foi a última vez que eu falei com ela, e eu me recordo que naquele dia eu estava apressado, com muita coisa pra fazer, e fiz questão de desligar o telefone rápido. Sabe quando você fala, mas fala na correria, porque você tem muita coisa pra fazer? E foi assim... se eu soubesse que aquela seria a última oportunidade de ver minha irmã, de olhar nos olhos dela, de falar com ela, eu certamente teria esquecido toda a pressa, porque quando a vida é assim, e você sabe que é a ultima oportunidade, você não tem pressa pra mais nada. Já não há mais o que eu fazer, e essa é a beleza da última ceia de Jesus.
Não há pressa, o momento é feito para celebrar, a mística da última ceia está ali, Jesus reúne aqueles que pra ele tinha um valor especial, inclusive o traidor estava lá.
E eu descobri com isso, com a morte da minha irmã, que eu não tenho o direito de esperar amanhã pra dizer que amo, pra perdoar, para abraçar, dizer que é importante, que é especial.
O amanhã eu não sei se existe, mas o agora eu sei que existe, e às vezes, na vida, nos perdemos... Eu me lembro quantas vezes na minha vida de irmão com ela, nós passávamos uma semana sem nos falarmos, porque houve uma briga, uma confusão. A gente se dava o luxo de passar uma semana sem se falar, e hoje eu não tenho mais nem 5 minutos pra conversar com alguém que foi importante, que foi parte de mim.
E depois que minha irmã morreu, um tempo bem passado, eu descobrir porque eu gostava tanto dessa música que vou cantar agora. Ela não fala de um amor que foi embora; o compositor fez para a filha que morreu em um acidente; então, fica muito mais especial cantá-la e descobrir o cristianismo que está no meio das palavras, porque é assim, quando o outro vai embora
é que a gente descobre o tamanho do espaço que
ele ocupava.
“Não sei por que você se foi,
Quantas saudades eu senti,
E de tristezas vou viver,
E aquele adeus não pude dar...
Você marcou a minha vida
Viveu, morreu
Na minha história;
Chego a ter medo do futuro
E da solidão
Que em minha porta bate...
E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...
E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...”
Eu gostava tanto de você!
Eu gostava tanto de você!
Eu gostava tanto de você!
Eu gostava tanto de você!
Agora o triste da música é que a gente precisa conjugar o verbo no passado, a pessoa já morreu, já não há mais o que fazer. Mas não tem nenhum sofrimento nessa vida que passe por nós sem deixar nenhum ensinamento...
Tem que nos ensinar, não dá pra sofrer em vão. Alguma coisa a gente tem que extrair...
Extraia o sofrimento e descubra o ensinamento. Se ele algum dia me tocou e me deixou algum ensinamento, eu faço questão de partilhá-lo com você agora. Depois da morte da minha irmã eu faço questão de viver a vida como se fosse o último dia.
Vamos mudar o verbo! Vamos amar a vida! Vamos amar as pessoas antes que elas vão embora!