“Uma planta morreu porque dei a ela muita água. Então eu entendi que oferecer demais, mesmo que seja para fazer o bem, nem sempre é bom”


Flores e pessoas. Universo de fora e universo de dentro. Natureza das coisas e natureza das emoções. Conexões entre estrelas e conexões entre axônios… tudo está conectado, e por mais que a gente não domine botânica, astronomia ou biologia, não dá para negar que a explosão do universo se assemelha ao nosso mundo interno, e vice versa.


Nenhuma planta sobreviverá ao excesso de água. Dar demais, ainda que seja para o bem, pode ser prejudicial. Isso serve para plantas, pessoas e relacionamentos. Ao contrário, porém, uma flor pode resistir à escassez de água, e tornar-se ainda mais forte ao suportar as adversidades, encontrando recursos que nem sabia que existiam ao brotar entre rachaduras na calçada ou entre trincas no cimento.


Talvez seja por isso que aquela moça nunca namore. A ansiedade faz com que ela atropele tudo, e saia regando demais plantas que não carecem de água. Ela tem pressa de demonstrar afeto, e por isso não espera que sintam sua falta. Ao contrário, faz do excesso sua linguagem; e da escassez, sua incapacidade. Ela precisa aprender a suportar o tempo das coisas, e a não matar o amor por overdose de atenção.


Muitos relacionamentos morrem de overdose. Exagero de atenção, abundância de presença, excesso de mimos. Não estou defendendo a falta, mas aposto no equilíbrio. Assim como a escassez, o excesso pode ser prejudicial. Na dúvida, aposte na reciprocidade. Em dar na mesma medida que recebe, ou em parar de regar para assim descobrir à quantas plantas mortas você anda oferecendo amor.


Salgue demais uma comida, ela ficará intragável. Ofereça água em excesso a uma flor, ela morrerá. Compre todos os brinquedos da loja para uma criança, ela não dará valor a nenhum. Sufoque alguém com excesso de presença, atenção, carinho e mensagens… e você a perderá para sempre.


É preciso aprender a suportar o tempo das coisas, e a respeitar o espaço de cada um. Dome sua ansiedade, se volte para outros interesses, descubra novos hobbies. Sua ausência, ao contrário do que imagina, atrai atenção. Você reverte a situação, o jogo vira, e você descobre que antes de brilhar no céu de alguém, precisa primeiro encontrar seu próprio brilho, o que te faz bem.


“Girassol, quando abre flor, geralmente despenca”. De que adianta um girassol com a flor mais linda, se seu caule não é capaz de suportar a própria beleza? Se você não for bom para si mesmo em primeiro lugar, não ensinará a ninguém como quer ser amado. Se você não é capaz de exercer o autocuidado, como quer ser valorizado?


Porém, tenho aprendido que algumas plantas, não importa o cuidado que tivermos com elas, morrerão antes do previsto. A água não faltou nem foi em excesso, a luz chegou da maneira correta, os nutrientes foram suficientes. Elas morrerão porque tinham que morrer, e nada do que fizermos irá mudar isso. Então o negócio é aceitar. Nem tudo depende da gente, da maneira como agimos ou deixamos de agir. E isso se estende a tudo na vida.


Ame, mas não sufoque. Doe-se, mas não se abandone. Deseje, mas não se sujeite a tudo para obter. Permaneça, se te fizer bem. Deixe ir, se faltar reciprocidade. E, acima de tudo, faça o seu melhor e solte. Flores e pessoas. Universo de fora e universo de dentro. Natureza das coisas e natureza das emoções. Conexões entre estrelas e conexões entre axônios… tudo está conectado, e nem tudo está sob seu controle…


*Fabíola Simões 


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