E SE TIVESSE SIDO DIFERENTE?

Nossa! Que vacilo!

Diz aquele que nunca vacilou. Conhece alguém? Não. Não conhece. Não há quem nunca tenha pisado na bola. Quem não tenha mijado fora do penico.

Todo mundo tem essa mania. Sabe por quê? Porque o erro dos outros a gente tende a enxergar com nitidez. A julgar de forma rígida. A não compreender os motivos de tamanha burrada. Num julgamento cego de quem olha a capa, mas nunca leu o livro.

Se pudesse olhar por dentro, veria medos, aflições, traumas antigos, desespero, solidão. E aí, talvez entendesse os motivos de tanta dificuldade. Nada é a toa. Nada é de graça. Só que é preciso empatia para se colocar na pele do outro, sentir igual. Estar aberto para compreender.

Macaco senta no rabo e fala do outro. O descompasso alheio pula na nossa frente. O nosso, não. Jogue a primeira pedra quem nunca fez besteira. Quem nunca seguiu em frente fingindo ignorância. Disfarçando. Adiando.

Fazendo de conta que está tudo bem. Empurrando com a barriga. Você mete o pé na jaca com força. Quando vê, já foi. Já fez. Sem retorno. Sem conserto. Está feito. Fazer o que? Aprender e mudar dali para a frente. Repensar e fazer diferente. Entender como aprendizado.

Fez, está feito. De nada adianta remoer. Ruminar. Ficar se perguntando:

- E se eu tivesse feito diferente?

Não foi. A vida é o que a gente consegue fazer. Do jeito que dá. Da forma que se imagina certa. Dói ter errado. Dói mais ainda sofrer as consequências da burrada que fez.

Vida é dobrar lençol de elástico. Você dobra de um lado, desdobra do outro. Parece que está conseguindo. Quando vê, embolou tudo de novo. E precisa recomeçar. Sozinho, com ajuda dos amigos, dos parentes, de todo mundo que te é querido.

Se perceber que não consegue, busque ajuda. Há pessoas que vivem como cachorro atrás do rabo, se metendo nas mesmas situações. Um homem safado atrás do outro. Uma demissão atrás da outra.

Se metem em brigas sem grandes motivos. Reclamam sempre das mesmas coisas. Do mesmo tipo de pessoa, mas escolhe sempre igual. Nesse caso, uma terapia pode ajudar. Na terapia se descobre seus motivos, se repensa sua dinâmica, se joga uma luz sobre seus sentimentos.

A terapia é um espaço de conhecimento. De enriquecimento. De redefinição de futuro. Se perceber que não consegue sozinho, peça ajuda. Não é vergonha nenhuma. Vergonha é deixar que a vida escorra pelas suas mãos.

Erros acontecem o tempo todo. Vivemos por ensaio e erro. Muito mais erros que acertos, às vezes. Faz parte. Fazer o que? A gente vai caindo, levantando, tentando de novo. Somos caminhantes com bolhas nos pés e na alma. Ainda assim, caminhantes porque outro jeito não há.

*Mônica Raouf El Bayeh

Mônica é carioca, professora e psicóloga clínica. Especialista em atendimento a crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias. Perita judicial.

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